quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A comissão de Bruno César

O Record noticiou ontem o pagamento, por parte do Sporting, de uma comissão de €1,3M ao intermediário Costa Aguiar pela contratação de Bruno César. Por algumas reações que esta notícia gerou e pela forma como apareceu no Record, ficam aqui algumas considerações sobre o assunto.

1. A notícia dada pelo Record

O Record tem dado eco de uma boa parte das revelações feitas pelo Football Leaks. O jornal tem dedicado mais espaço de capa a documentos relacionados com o Sporting, mas é justo que se diga que tem sido o único que tem dado alguma atenção aos leaks referentes a Benfica e Porto.

No entanto, é uma novidade a forma como estes documentos da contratação de Bruno César foram revelados: o Football Leaks passou estes documentos diretamente ao Record, que os divulgou em primeira mão. Os documentos de Bruno César não foram colocados no site do Football Leaks.

Não é a primeira vez que o Football Leaks fornece documentos a jornais como exclusivos - fez o mesmo com o Der Spiegel nos contratos de Xabi Alonso e Kroos -, mas fico com curiosidade para saber se existem mais documentos em posse do Record, e a que clubes dirão respeito.

Será interessante perceber a natureza (e em particular os alvos) dos documentos que António Varela - o jornalista do Record que tem sido a ponte de ligação com o Football Leaks - continuará a publicar. Estaremos a falar de uma espécie de discos pedidos dos podres do futebol - à medida do que o jornalista se vai lembrando -, ou são as pessoas do Football Leaks que tomam a iniciativa de escolher os documentos que passam ao Record? Ou, reformulando, teremos direito apenas a documentos sobre o Sporting, ou os outros clubes serão alvo de um tratamento idêntico?

As próximas semanas encarregar-se-ão de clarificar esta questão.


2. A comissão de Bruno César

Uma comissão de €1,3M não é um valor estapafúrdio para uma transferência que, tanto quanto se sabe, não teve quaisquer outros encargos para o clube. Para além disso, o rendimento desportivo de Bruno César tem sido muito satisfatório até ao momento, pelo que me parece que o pagamento de €1,3M de comissões por um jogador que chegou e pegou de estaca no onze foi uma decisão de gestão bastante acertada.

Quanto ao papel do intermediário, se teve influência na cláusula que permitiu a Bruno César rescindir com o Estoril sem custos para o futuro clube, então é normal que deva ser recompensado por isso. €1,3M é muito dinheiro, mas sabemos que o custo zero raramente existe no futebol.

Há ainda uma outra hipótese que não deve ser colocada de parte: uma fatia dos €1,3M pode ter sido reencaminhada para o Estoril / Traffic, como parte do acordo assinado aquando da contratação de Bruno César por parte do clube da linha.


3. O salário de Bruno César

Bruno César recebe esta época €400.000 brutos de salário. Em 2016/17 receberá €800.000 brutos. Nas épocas seguintes €900.000 brutos. Não se pode dizer que exista um aumento significativo do salário entre a época atual e a próxima, visto que o jogador só entrou no Sporting a meio da temporada. Dividindo o salário por cada mês de contrato, falamos de valores bastante aproximados.


4. Que impacto tem na política relativa aos agentes e intermediários imposta por Bruno de Carvalho

Basicamente, não existe qualquer incoerência. Não foi a primeira vez que o Sporting pagou comissões desta ordem de valores no âmbito da compra de um jogador. A contratação de Aquilani envolveu o pagamento de €1M em comissões, enquanto a de Teo Gutierrez incluiu uma comissão de €340.000, aos quais serão adicionados €470.000 por cada época de permanência do colombiano em Alvalade. Para além disso, durante o processo de renovação de Carrillo, o Sporting ofereceu €3M a Casareto (€1,5M no momento da renovação, mais €1,5M caso o jogador não fosse vendido no mercado de inverno).

A postura de Bruno de Carvalho em relação aos agentes e intermediários nunca foi de intransigência, mas sim de saneamento e regulação de uma situação que estava completamente descontrolada, com prejuízos sérios para o clube. Houve efetivamente uma grande redução dos valores pagos em comissões desde que Bruno de Carvalho assumiu o cargo. O pagamento de verbas elevadas a intermediários passou de regra a exceção, aplicada em função da importância e da oportunidade do negócio. Por aqui, nada contra.