segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A entrevista de Cosme Machado à SIC



Cosme Machado deu ontem uma entrevista à SIC, para dar a sua versão do episódio da recambolesca validação do segundo golo da Académica em Alvalade.

O primeiro comentário que tenho a fazer sobre isto é que estamos perante mais uma inovação a envolver o Sporting, a par do sumaríssimo e das indicações dadas por Vítor Pereira aos árbitros na semana passada para serem intransigentes com os treinadores e restantes elementos do banco. Não só é inédito vermos um árbitro a reverter uma indicação do seu fiscal-de-linha num caso de fora-de-jogo, como também é extremamente raro vermos um árbitro vir a público explicar o sucedido. E está aqui a minha primeira questão: Cosme falou com a SIC por iniciativa própria, ou fê-lo por indicações de Vítor Pereira? 

No regulamento de arbitragem relativo à época de 2015/16, está escrito que os árbitros não podem fazer declarações sobre os jogos que dirigiram sem autorização prévia. Perante isto, só existem duas hipóteses: ou Cosme Machado fê-lo à revelia do Conselho de Arbitragem e tem que ser castigado, ou fê-lo com autorização do Conselho de Arbitragem. E se o fez com autorização do Conselho de Arbitragem, porquê o tratamento de exceção? Para ajudar a recuperar a sua imagem? Por que razão o mesmo não foi permitido, por exemplo, a Marco Ferreira (que só falou após ter decidido abandonar a carreira), ou a tantos outros árbitros que ao longo do tempo foram protagonistas de erros grosseiros de arbitragem?

Quanto às explicações dadas pelo árbitro, não são convincentes. O fiscal-de-linha assinalou de imediato o fora-de-jogo porque viu o que todos viram. Cosme Machado, na entrevista à SIC, afirmou que disse ao fiscal-de-linha que tinha muitas dúvidas que o jogador da Académica que estava em posição irregular tivesse interferido na jogada. Após uma longa conversa entre ambos, a decisão foi revertida. Como tal, parece evidente que Cosme Machado ou convenceu o seu assistente com a sua argumentação, ou tomou a decisão de forma isolada.

Tudo isto é altamente anormal, mas o que é ainda mais incompreensível é o facto de Cosme Machado ter tentado impor o seu ponto de vista considerando a posição de ambos nesse momento. Cosme estava longe do lance e tinha muitos jogadores entre si e o local onde a bola foi cabeceada por Ewerton, enquanto o seu fiscal-de-linha tinha uma visão completamente desobstruída:

O momento em que Rui Patrício sacode a bola; veja-se a posição de Cosme Machado nesse momento

O momento em que há a interferência do jogador em fora-de-jogo; o fiscal-de-linha (do lado de cá do campo) tinha um ângulo perfeito para ajuizar o lance; Cosme Machado tinha vários jogadores a obstruirem-lhe a visão

O mesmo momento, de outro ângulo

Mais: Cosme Machado fala em alguma pressão e muito ruído no momento em que conversava com o seu auxiliar. Mas, nesse momento...


... apenas existiam jogadores e técnicos da Académica à sua volta. Curioso que a intransigência demonstrada com Jorge Jesus, Nélson Pereira (e até Frederico Varandas) não tenha sido igualmente aplicada neste momento do jogo.

Finalmente, um pormenor que está relacionado com aquilo que muita gente disse em reação às palavras de Cosme Machado: o árbitro não pediu desculpa ao Sporting. Admitiu o erro, explicou o motivo que o levou a tomar aquela decisão, mas não pediu desculpa. Nem tinha que pedir, pois as desculpas não trariam de volta os pontos que o Sporting teria perdido se não tivesse conseguido marcar o terceiro golo.

Foi, portanto, uma tentativa de recuperação da imagem do árbitro - se com ou sem a bênção de Vìtor Pereira, descobriremos na próxima semana -, que está inserida numa série de declarações que se seguirão no sentido de tentar desvalorizar aquilo que aconteceu no último sábado. Já hoje de manhã, na SIC Notícias, tivemos outro belo exemplo da narrativa que inundará as rádios e televisões nos próximos dias. Ladies and gentlemen: Fernando Guerra.

(obrigado, Zanizo!)