quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O epílogo da novela Carrillo

Acabaram ontem as dúvidas em relação ao destino de Carrillo. O peruano assinou pelo Benfica por um período de 5 anos, confirmando aquilo de que se suspeitava há meses: irá prosseguir a carreira em Portugal, num clube rival.

Carrillo é um excelente jogador. Depois de 3 anos iniciais com um nível exibicional muito irregular, o jogador estabilizou e fez uma grande época com Marco Silva, tendo sido, a meu ver, um dos melhores do plantel - a par de Patrício, Paulo Oliveira e Slimani. Com Jorge Jesus também estava a fazer uma temporada bastante positiva. Como tal, é evidente que não gosto da ideia de o ver a envergar a camisola do Benfica na próxima época. 

No entanto, o momento que realmente me custou não foi a confirmação de ontem, nem sequer os fortes rumores que surgiram na sexta-feira. Para mim, Carrillo passou a ser um assunto encerrado a partir do momento em que se recusou a renovar com o Sporting.

A verdadeira derrota do Sporting, neste processo, já tinha ocorrido em setembro, quando se deu a rutura total entre as partes, impossibilitando que o clube tirasse proveito desportivo e financeiro de um jogador que desenvolveu durante mais de 4 anos. Mas, há que dizê-lo, não consigo responsabilizar a direção por este fracasso (é fácil dizer agora que se poderia ter renovado há dois anos, mas na altura o rendimento do jogador não o justificava), pois parece-me que tudo foi feito - dentro das capacidades financeiras do clube - para que a renovação se concretizasse.

Carrillo recusou €1,3M líquidos anuais, que ascenderiam a €2M, €3M e €4M nas épocas seguintes caso o Sporting recusasse vendê-lo por propostas iguais ou superiores a €15M. O empresário, Elio Casareto, recusou €1,5M a pronto, mais €1,5M caso o jogador não fosse vendido nesta janela de transferências, e ainda 10% de uma transferência superior a €15M. O Sporting deu o que podia e ainda incluiu cláusulas que abriam as portas ao jogador para prosseguir a carreira no estrangeiro quando quisesse. Carrillo recusou. A partir daí, ficou para mim evidente que já teria um destino em mente, onde lhe iriam dar condições financeiras muito mais favoráveis. Sabemos agora que destino é esse.

Foi, portanto, bem sacado pelo Benfica, apesar de não ir sair barato a Vieira. O prémio de assinatura e as comissões são principescas, e o salário ficará ao nível dos jogadores mais bem pagos no plantel. Uma vez esgotado o efeito da bicada, logo se verá se este investimento compensará ao Benfica. Se o rendimento do jogador for o esperado pelos benfiquistas, seguramente que compensará pelo que receberão numa venda futura. Não rendendo, será difícil desfazerem-se do seu contrato de €20M a pagar em 5 anos (dando como bons os valores avançados por A Bola, apesar de os valores adiantados por Pedro Sousa no fim-de-semana - €4,5M brutos de salário, €2M limpos de prémio de assinatura e entre €3M e €4M para o empresário - me parecerem mais credíveis). Um mercenário ingrato não deixará de ser mercenário só porque trocou de camisola.

via @SportingCPBr

Quanto ao Sporting, a vida continuou. Apesar da importância de Carrillo, o jogador foi afastado do onze, e a verdade é que o rendimento desportivo da equipa não se ressentiu. E, sabendo o que sei hoje, se fosse possível repetir a época desde o final de setembro com Carrillo, eu não quereria. Carrillo, por exemplo, não impediu a eliminação da Champions e o empate com o Paços. O Sporting encontrou novas soluções, está a desenvolver Gelson e Matheus que, não estando ainda no mesmo patamar do peruano, estão num nível superior ao de Carrillo quando este tinha a idade deles. João Mário ocupou o lugar que à partida seria de Carrillo e está a ser muito mais influente do que o peruano alguma vez foi. O Sporting foi ganhar à Luz sem Carrillo, ganhou em Alvalade ao Benfica e ao Porto sem Carrillo. O Sporting é líder isolado do campeonato. Sim, a vida continuou, e não se pode dizer que esteja a correr mal.