quarta-feira, 9 de março de 2016

Às claras

Na terça-feira, no programa Juízo Final da Sporting TV, Fernando Correia fez um comentário sobre algo que lhe desagradou ver na bancada de imprensa durante o Sporting - Benfica.


Fernando Correia pode ser neste momento um assalariado do Sporting (ou da Sporting TV, vai dar ao mesmo), mas para mim tem um nível de credibilidade que só os jornalistas que, ao longo da sua carreira, souberam sempre manter uma postura igualmente isenta e séria. Durante anos ouvi Fernando Correia, e não conseguia perceber qual era o seu clube, à semelhança, por exemplo, do seu colega Jorge Perestrelo. Tem, por isso, toda a legitimidade para fazer as críticas que fez.

Assumo, portanto, que é verdade aquilo que Fernando Correia contou. E, na realidade, nem fico muito surpreendido. Nunca foi tão percetível no jornalismo desportivo um alinhamento tão às claras em favor de um clube. Isto revela-se de três formas:

1. A facilidade com que os elogios saem para o Benfica e com que as críticas saem para os outros. O inverso, só a muito custo.

2. Em contrapartida, é bem mais complicado identificar jornalistas sportinguistas em função do extremismo das suas opiniões. É impensável imaginar que, há dois anos, um subdiretor sportinguista de um jornal escrevesse que, ao fim de 15 jogos na 1ª equipa do Sporting, William Carvalho era o melhor jogador da liga. É impensável imaginar que, há três anos, após o Benfica perder todas as competições no espaço de duas semanas, outro subdiretor sportinguista escrevesse um artigo de opinião intitulado "E agora, Luís Filipe?". E seria bastante fácil encontrar outros exemplos.

3. O à-vontade com que certos jornalistas se passeiam em companhia de dirigentes benfiquistas ou em espaços benfiquistas.

Se tudo isto fosse normal, então também seria natural que alguns jornalistas sportinguistas fizessem o mesmo. Mas o facto é que não o fazem. A única dúvida que tenho é se não o fazem por brio profissional ou por receio de colocar em risco o seu emprego. 

(nota: estou a excluir deste comentário algumas figuras do jornalismo que fazem do sensacionalismo uma forma de estar; esses são mais técnicos de entretenimento do que jornalistas)