terça-feira, 8 de março de 2016

As contas de merceeiro do jornal O Jogo


Numa tentativa desesperada de fazer crer à sua cada vez mais reduzida base de leitores que o equilíbrio financeiro do Porto não é um desastre cada vez mais evidente, o jornal O Jogo fez ontem um artigo com uma "análise" altamente pessimista às contas do Sporting desta época. Coloco a palavra análise entre aspas porque é um trabalho que envergonharia qualquer aluno que tivesse pelo menos 3 aulas de contabilidade, quanto mais um profissional da comunicação social que, não sendo obrigado a ser um especialista nestas matérias, tem forçosamente de se informar melhor antes de escrever barbaridades destas:


Investimento: Contratações + Gastos com pessoal?

Do ponto de vista contabilístico, não faz qualquer sentido classificar custos com pessoal como investimento. Existe uma diferença grande: o valor investido numa contratação vai para o ativo da SAD, e vai sendo convertido em custo de forma equitativa por cada ano do contrato do jogador. 

Exemplo: Um jogador que seja contratado por €5M e assina um contrato de 5 anos. Os €5M vão para o ativo da SAD. Ao longo de cada ano, a SAD reconhece o custo de €1M. Portanto, os 10M que, segundo O Jogo, o Sporting investiu em contratações, serão diluídos ao longo dos contratos dos jogadores adquiridos, e não apenas na época em análise.

Por que motivo é assim? Porque a utilidade de jogadores como Naldo, Bryan Ruiz ou Marvin não se esgotarão na primeira época. Como tal, é extremamente redutor estar a fazer este tipo de contas.

Esta análise também não faz sentido do ponto de vista da gestão de tesouraria. Seria preciso conhecer os prazos de pagamento dos valores acordados com os clubes de origem dos jogadores, que muitas vezes são empurrados para épocas seguintes.

Ao contrário das contratações, os custos com pessoal não são investimento. Aqui falamos de custos que são assumidos no momento, referindo-se aos salários dos jogadores, treinadores e demais estrutura. Neste caso, O Jogo colocou nesta análise apenas os custos diretos com jogadores.

Para piorar, os valores das contratações não estão corretos. Segundo o R&C apresentado há uma semana, o Sporting gastou esta época €12,342M e não os €10M referidos, enquanto que na época passada gastou €10,017M e não os €15,295M referidos. Só por aqui se pode ver o rigor da análise dos jornalistas Mário Duarte e Rafael Toucedo.


Custo dos salários e investimento em jogadores. E então as vendas de jogadores?

Até compreendo que o objetivo da análise de O Jogo não passe por uma avaliação puramente contabilística. Assumindo que estavam a tentar colocar o foco mais no balanço dos valores que o clube se comprometeu a gastar ao longo da época, que sentido faz estar-se a somar estes valores sem se levar em consideração as vendas de jogadores? Um plantel tem espaço para contratar jogadores porque também há outros que são vendidos. E a venda desses jogadores também ajuda a tapar o tal prejuízo. Aliás, qualquer um dos clubes grandes em Portugal apresentaria um enorme prejuízo, seguindo este critério.


Os proveitos

Esta é a parte mais extraordinária de toda a análise. Então os proveitos que os jogadores geram limitam-se às competições europeias? Um clube, quando programa os custos e investimentos para uma época, tem que contar com todas as receitas que conseguirá gerar: os direitos TV (que sofreram um aumento substancial, no caso do Sporting), a publicidade e patrocínios, a bilheteira e os lugares de época, o merchandising e, claro, a já mencionada receita da venda de jogadores.

Mesmo assim, O Jogo mais uma vez conseguiu falhar nos valores. Entre prémios de participação, market pool da TV e bilheteira, as competições europeias valeram este ano ao Sporting um total de €10,573M (e não os €7,35M mencionados no artigo). Na época passada, o Sporting recebeu €12,666M (e não os €14,7M indicados pelo jornal).


Fazendo uma transposição para as realidades de Porto e Benfica

Ontem, o blogue Mister do Café fez um post sobre este assunto (LINK), e fez uma derivação bem engraçada de como seria esta mesma análise do jornal O Jogo se fosse estendida para Porto e Benfica:

Fonte: Mister do Café (nota: as contratações do Benfica estão incompletas, pois o R&C não revela em lado nenhum o valor total gasto com contratações e respetivas comissões)

Por aqui se vê que, segundo os critérios de O Jogo, o Sporting seria de longe o clube a correr atrás de um prejuízo menor. Como tal, a oportunidade deste artigo só se pode explicar como sendo mais uma tentativa patética de meter carvão, à boa moda dos €11M de contratações de Bruno que estão emprestados (LINK) ou dessa enorme gargalhada que foi o artigo do "mito abalado" sobre o predomínio da formação do Sporting no panorama nacional (LINK).


Fazendo uma transposição para a realidade do jornal O Jogo

Se o jornal O Jogo fizesse uma análise idêntica aos seus próprios custos, investimentos e proveitos gerados pelos seus jornalistas, teriam que fazer as contas assim:

Investimento = Compra de equipamento utilizado diretamente pelos jornalistas no desempenho das suas funções (viaturas de serviço, computadores, etc.)

Custos = Salários dos jornalistas

Proveitos = Avenças recebidas de um determinado clube para fazer artigos a pedido (ex.: Pato)

As receitas da venda de jornais e de publicidade, bem como os custos de distribuição, rendas de edifícios e custo com rotativas e outras matérias-primas ficariam de fora. Não seria uma análise muito completa, pois não?