quinta-feira, 31 de março de 2016

Ficção aterradora

Jorge Coroado foi, provavelmente, o melhor árbitro de todos aqueles de que tenho memória (melhor até que Proença, que infelizmente tinha um desempenho nas competições nacionais que ficava muito aquém das suas prestações internacionais). Coroado cometia erros, alguns deles graves - como qualquer árbitro -, mas sempre o tive como uma pessoa imparcial. Isto, numa época em que os Guímaros e os Martins dos Santos estavam muito mais à vontade para resolver partidas - já que nessa altura eram poucos os jogos com transmissão televisiva e não existiam repetições de múltiplos ângulos que permitissem uma melhor avaliação do seu trabalho.

Coroado sempre teve uma personalidade muito vincada enquanto árbitro, que se foi apurando ainda mais após o abandono de atividade. Não aprecio o Coroado-juíz do Tribunal d'O Jogo, e o Coroado-comentador é demasiado polémico para meu gosto. A ideia que faz passar nas suas opiniões é que nenhum árbitro é suficientemente bom. Na realidade, até é capaz de ter razão, mas da forma como debita as suas sentenças fica a ideia que não é tanto o sentido de justiça do juiz a orientar a escrita, mas sim o ego do juiz.

Fiz esta introdução por causa daquilo que Coroado escreveu no jornal O Jogo na última terça-feira.

Na origem de cada texto está a pessoa que o escreve. Essa pessoa tem a sua forma de ser e tem as motivações que o levam a escrever as coisas que escreve. Não sei o que levou Coroado a escrever aquilo que escreveu na terça-feira. Não sei se está a pensar em candidatar-se ao Conselho de Arbitragem daqui a uns meses. Não sei se só agora "inventou" o enredo que montou. O que é facto é que esta "ficção" que escreveu está carregada de pormenores que, por acaso, até têm vários pontos de contacto com a realidade da arbitragem portuguesa.

Para quem não leu, aqui fica o texto:


Todos vimos como Tiago Martins e Fábio Veríssimo subiram a internacionais sem terem arbitrado um único jogo da I Liga. Todos vemos árbitros como Bruno Paixão ou João Capela a destruir, semana após semana, os jogos de futebol que dirigem, mas por artes mágicas nunca tiveram a infelicidade de serem despromovidos. Todos vemos uma nova geração de árbitros manifestamente incompetentes - ou que têm apenas a infelicidade de manifestar incompetência quase sempre a favor dos mesmos - a tomar conta do quadro de árbitros de primeira categoria. Todos vimos o que aconteceu a Marco Ferreira, um dos melhores árbitros em 2013/14, a ser despromovido em 2014/15, e todos ouvimos o que alegou o árbitro madeirense. E sabe-se lá o que estará o CA a cozinhar para as classificações finais desta época.

"Protegidos" que são promovidos ao patamar mais elevado? Elementos de grupos de fãs não legalizados que são incentivados a inscreverem-se em cursos de árbitros de futebol de onze? Seria interessante que Coroado, no seu próximo texto, começasse a dar nomes às personagens, porque esta peça de ficção tem todos os elementos para se tornar num clássico da literatura moderna.

(via Tu Vais Vencer)