quarta-feira, 30 de março de 2016

Sinais de esperança

Depois da deprimente exibição da seleção contra a Bulgária, o jogo de ontem acabou por deixar alguns sinais de esperança para a nossa participação no Euro 2016. Apesar de a Bélgica ter várias baixas de peso (Hazard, De Bruyne, Kompany e Vertonghen) e de o fio de jogo coletivo português ainda continuar caótico (por exemplo, abusou-se dos cruzamentos - apesar de um deles até ter dado golo), não deixou de ser uma vitória contra uma boa seleção, em teoria mais forte que qualquer um dos nossos adversários na fase de grupos no Europeu.

Mas para que esses sinais de esperança se venham a converter em algo mais palpável, é fundamental que Fernando Santos faça a sua parte: convoque e coloque a jogar aqueles que realmente têm ainda algo a dar à seleção, e não olhe para nomes, empresários, quotas de clubes e índices de popularidade dos atletas no momento de escolher os 23 que irão a França.

Os próximos compromissos da seleção já serão após o fim das competições de clubes, e será bom que Fernando Santos não desperdice as poucas oportunidades que ainda tem para consolidar rotinas entre os jogadores que, na sua cabeça, formarão o onze principal. 


Lembro-me, por exemplo, dos jogos desperdiçados por Paulo Bento nos últimos jogos de preparação antes da equipa partir para o Brasil, mudando de esquemas táticos e trocando jogadores de posição como quem muda de roupa nos provadores de uma loja de pronto-a-vestir. Tentou um duplo-pivot com William e Veloso contra a Grécia. A seguir, contra o México, usou Fábio Coentrão como médio centro (!) e André Almeida como defesa esquerdo, para depois contra a Irlanda voltar a colocar Coentrão na lateral. Para além disso, conseguiu apresentar equipas completamente diferentes nos três jogos de preparação. O resultado ficou à vista: pode ter havido o problema dos índices lesionais do Dr. Jones, mas houve também muita responsabilidade do treinador no fracasso que foi a participação no mundial.

Até junho pode haver muitas evoluções positivas e negativas na forma dos jogadores mas, neste momento, parece-me que o melhor onze não pode abdicar de um meio-campo com Danilo (espero que William suba de produção até ao final da época para disputar o lugar), Adrien e João Mário. Cédric oferece mais na lateral direita que Vieirinha e, à falta de Fábio Coentrão, Raphael Guerreiro apresentou bons argumentos (apesar de também gostar de Antunes). É escusado dar mais tempo de jogo a Éder (que parece estar numa pilha de nervos sempre que joga pela seleção), a Bruno Alves e a Eliseu. Bernardo Silva, André Gomes e Rafa terão uma palavra a dizer na conquista da titularidade. Não é justo fazerem-se apreciações definitivas de Renato, mas não acrescentou absolutamente nada no tempo de jogo que teve em ambas as partidas. E quando Moutinho estiver recuperado, que seja obrigado a lutar pelo lugar que ontem foi de Adrien. João Mário tem que jogar sempre.

P. S.: parece que o miúdo que invadiu o campo no jogo contra a Bulgária voltou a dar sinais de vida na partida de ontem. Depois de ter sido colocado nas capas de jornais, entrevistado por jornais e televisões (ele e os pais) e transformado num herói nacional, foi convidado para ver a partida de ontem... num camarote. Se isto é verdade, que triste é este país que premeia gente que pratica atos que deviam ser, no mínimo, desencorajados.