quarta-feira, 2 de março de 2016

"Tão diferentes"

Está cada vez mais apurada a arte de Fernando Guerra - fã número um de Vieira e, ao que se diz, elemento do Conselho de Estado Lampiânico - em conseguir condensar em meia página de jornal tanta desonestidade intelectual. Pouco tempo depois do aclamado artigo "E agora, Bruno Miguel?", eis que o diretor-adjunto do jornal A Bola volta à carga:


Não é admissível que um jornalista desportivo possa afirmar que o trabalho de Bruno de Carvalho se possa resumir ao aproveitamento do trabalho que algumas ovelhas tresmalhadas lhe deixaram. É que mesmo sendo verdade que a reestruturação financeira já estava a ser negociada com a banca antes da entrada de Bruno de Carvalho em funções, todos sabemos que esse acordo de nada teria servido se o clube e a SAD continuassem a ser geridos da mesma forma incompetente que até aí.

O problema do Sporting não era a falta de dinheiro. A falta de dinheiro era apenas uma consequência do verdadeiro problema. E o verdadeiro problema foi o desfile de administradores e gestores sem qualquer competência para comandar um clube como o Sporting. Gente que definiu uma estratégia desportiva e financeira suicida, que esbanjou dinheiro em jogadores sem valor, que vendeu ao desbarato o património do clube até ao ponto de serem necessárias operações como a venda de 2,5% do passe de Chaby para pagar as contas da luz e da água.

Hoje a situação do clube está completamente diferente para melhor - mesmo considerando o prejuízo divulgado esta semana -, mas convém não esquecer que estivemos à beira do abismo há apenas 3 anos. É escandaloso que um jornalista queira limitar o mérito deste presidente e desta direção - em toda a evolução desportiva e financeira registada -, à construção de um pavilhão.

(já agora, teria sido honesto dizer que o acordo de reestruturação desenhado pelas "ovelhas tresmalhadas" implicava uma significativa perda de independência da gestão do Sporting face à banca, coisa que Bruno de Carvalho recusou quando assumiu a presidência; um pequeno GRANDE pormenor que ficou esquecido, e que foi essencial na recuperação desportiva do clube)

Está visto que, para muitos jornalistas e opinion makers deste país, é um crime bem mais grave ter-se uma postura agressiva na defesa dos interesses do clube do que ser-se responsável por uma gestão danosa que deixa o clube à beira da extinção. Godinho Lopes, volta!, estás perdoado.

Mas o pior de todo este artigo é mesmo a desonestidade do escriba na comparação entre Bruno de Carvalho e Luís Filipe Vieira. Só pode ser anedota escrever que Vieira é um presidente discreto cujos excessos podem ser contados pelos dedos de uma mão. Em primeiro lugar, porque falamos de alguém que tem um longo historial de declarações e atitudes bastante graves - incluindo ameaças de boicotes a competições e à comparência de adeptos nos estádios adversários, e uma interminável lista de acusações e insultos a árbitros, dirigentes e outras figuras do futebol português.


Em segundo, e mais grave, porque falamos da pessoa que efetivamente tornou a discussão sobre futebol em Portugal completamente insuportável. Vieira invadiu os jornais e televisões com uma legião de opinadores que não olham a meios para o defender e atacar os rivais. Foi o Benfica que ofereceu Pedro Guerra ao futebol português, que inquinou em definitivo qualquer debate de teor clubista. Foi o Benfica que tomou de assalto a agenda da maior parte dos programas em que se fala de futebol, com um conjunto de comentadores supostamente isentos, mas que já nem tentam disfarçar a sua agenda. Fernando Guerra saberá melhor do que ninguém do que estou a falar.

Há assim tantas diferenças entre um presidente de um clube que está constantemente a dirigir acusações a outros, e outro presidente de clube que paga a outros para que façam o mesmo por si? Eu não vejo qualquer diferença, a não ser em que pelo menos um assume aquilo que diz enquanto o outro, cinicamente, faz-se passar por um elemento ponderado e pacificador quando, na realidade, é tão mau ou pior do que o primeiro. 

E nem quero entrar pelas jogadas de bastidores que existem a outros níveis. Se fôssemos por aí é que não haveria qualquer comparação possível. Tão diferentes...