quarta-feira, 6 de abril de 2016

Um acordo Generoso

Ao fim de seis meses de Football Leaks, já houve revelações e surpresas para todos os gostos mas, provavelmente, o mais bizarro de todos os documentos divulgados até ao momento é um contrato de intermediação da transferência de um jovem desconhecido, revelado na noite da passada segunda-feira. O clube e a empresa de intermediação são, no entanto, velhos conhecidos.

Refiro-me ao acordo assinado em agosto de 2013 pelo Porto e a Danubio Finanzierungsleistungen Und Marketing GmbH por ocasião da transferência do jogador Generoso Correia para o clube. "Porto? O quê? Quem?", perguntarão 99% das pessoas que lêem este texto. Pois bem, façamos as devidas apresentações.


A Danubio é a empresa que, em setembro de 2013, participou na transferência de Kayembe do Standard de Liege para o Porto, supostamente a custo zero. No entanto, o R&C da SAD revelaria que o Porto pagou à Danubio um total de €2,615M. Na altura da transferência, o jogador belga tinha apenas 19 anos e nunca tinha feito qualquer jogo no escalão sénior (fazia parte da equipa de juniores do Standard Liege). Uma vez transferido, fez uma época e meia no Porto B, foi emprestado meia temporada ao Arouca, e está no Rio Ave desde o início de 2015/16, onde é utilizado de forma intermitente.

Sabe-se também que a empresa é representada no tal contrato de intermediação por Paul Stefani, empresário de Defour. 


Generoso Correia é um jovem jogador nascido na Guiné Bissau que, em agosto de 2013, tinha 14 anos e jogava na equipa de iniciados do Chaves. Aparentemente deverá ter despertado a atenção dos responsáveis do Porto, que o contrataram para a sua equipa de juvenis.

Até aqui tudo normal. É apenas mais uma história entre tantas de jogadores que dão nas vistas em emblemas mais modestos, e acabam por ser recrutados para um clube de maior dimensão. O que não é normal são os termos em que esta contratação foi realizada.

O contrato de intermediação começa por especificar os serviços prestados pela Danubio, entre os quais o aconselhamento ao Porto para avançar para a contratação de Generoso, e a ajuda dada para convencer o jovem jogador do Chaves a mudar-se para o litoral. 


Como contrapartida, o Porto comprometeu-se com uma série de obrigações.

Em primeiro lugar, na eventualidade de Generoso, um dia, assinar um contrato profissional com o clube, a Danubio fica automaticamente com direito a 50% de uma transferência futura do jogador, deduzidos das habituais despesas. Na prática, falamos de 50% dos direitos económicos.

Depois, se Generoso disputar 5 partidas oficiais (só contam aquelas em que jogar pelo menos 45 minutos) pela equipa sénior principal do Porto, o clube compromete-se a comprar 30% dos direitos económicos do jogador à Danubio por €2,5M. Ou seja, falamos de uma avaliação do total do passe do atleta de €8,3M.

Para além disso, se o Porto receber uma proposta de transferência por Generoso igual ou superior a €15M, então o Porto é obrigado a aceitá-la ou, em alternativa, terá que comprar mais 10% dos direitos económicos à Danubio por 10% da referida proposta.

Na prática, estamos perante cláusulas de um típico contrato de TPO. Em 2013 estes contratos eram totalmente legais (só passaram a ser proibidos a partir de maio de 2015), mas não faz qualquer sentido que um clube como o Porto tenha que recorrer a este tipo de acordos para recrutar um jovem de 14 anos que jogava na equipa de iniciados de um clube português de dimensão inferior. Tal como não faz qualquer sentido que o Porto trabalhe no desenvolvimento do jogador durante 4 anos, para depois abrir mão de metade do passe e ter que pagar um valor absurdo por Generoso caso se venha a tornar suficientemente interessante para fazer um punhado de jogos pela equipa principal.

Neste momento, Generoso tem 17 anos, faz parte da equipa de juniores do Porto e é internacional sub-17 por Portugal.