terça-feira, 17 de maio de 2016

Jesus valeu os 5 milhões?

Agora que a época terminou, podemos finalmente fazer o balanço da época de Jorge Jesus enquanto treinador do Sporting, e debatermos se se justificou a sua contratação. E, em particular, se o técnico justificou o salário de €5M que aufere em Alvalade.

É legítimo que se diga que a conquista de um único título (Supertaça) é proeza curta para um treinador que recebe um salário incomparavelmente superior a qualquer outro treinador em Portugal. Para além disso, também se pode argumentar que o mérito de o Sporting ter lutado pelo título até ao fim não pode ser atribuído apenas a Jesus, considerando que o orçamento para o futebol praticamente duplicou. Será que Jesus teria conseguido, com o plantel que Marco Silva tinha ao seu dispor, chegar à última jornada com hipóteses de ser campeão? Provavelmente, não.

Mas também podemos colocar as perguntas de outra forma: que outro treinador (realisticamente ao alcance de um clube português) conseguiria, com o mesmo plantel que foi dado a Jesus, disputar o título até ao fim, com a mesma qualidade que todos pudemos observar? Eu, sinceramente, não me lembro de nenhum.

O Sporting pode ter duplicado os gastos salariais em relação ao ano passado, mas isso não quer dizer que o plantel seja duas vezes melhor. Uma boa fatia desse dinheiro foi aplicada em renovações com jogadores que já estavam no clube ou em contratações para colmatar saídas de titulares no último defeso. Ainda assim, apesar deste aumento, o Sporting continuou a ter um orçamento inferior (marginalmente) em relação ao do Benfica e (significativamente) ao do Porto. Como tal, não me parece que faça sentido dizer-se que o Sporting tinha obrigação de ser campeão, tendo apenas o 3º maior orçamento da I Liga, e ainda mais quando o ponto de partida era uma época em que andou sempre distante do topo da classificação. Obrigação de lutar para ser campeão, sim; obrigação de ser campeão, não.

Jesus pegou no plantel que herdou, adicionou-lhe algumas peças, e construiu uma equipa à sua imagem que bateu largamente o recorde de pontuação do clube: 86 pontos, mais 8 que o anterior máximo. Goal average de +58 (na época anterior foi de +38), muito superior a qualquer outra época do clube no futebol moderno - para vermos uma marca desta dimensão, teríamos que recuar ao tempo dos 5 violinos. E, claro, futebol de qualidade, como há muito não víamos praticar em Alvalade.

Para além disso, existe a questão do retorno financeiro que o trabalho treinador poderá proporcionar em termos de vendas. Slimani, João Mário e Adrien foram, provavelmente, os três casos mais óbvios de valorização, mas também Rui Patrício e, no final da época, William Carvalho, cresceram com Jesus. Para não falar no lançamento de Rúben Semedo e Gelson Martins. Veremos no defeso as vendas que o clube fechará.

Voltando à pergunta inicial: Jesus valeu os 5 milhões? Sem a conquista do campeonato, não consigo responder de forma afirmativa com total convicção. Mas se me perguntarem se vale a pena investir novos 5 milhões em Jesus no ataque à próxima época, aí respondo sem quaisquer hesitações: sim, pois estaremos muito mais perto de ganhar com Jesus do que sem Jesus.