sexta-feira, 6 de maio de 2016

O minuto de silêncio por Paraty em Alvalade

Quando uma pessoa morre, o princípio que costumo seguir é: "se não tens nada de bom para dizer, então não digas nada". Como tal, não fiz quaisquer comentários ao falecimento do ex-árbitro Paulo Paraty, por uma questão de civilidade e de respeito com a família e amigos do falecido, para quem a sua morte é uma tragédia pessoal que nunca se deseja a ninguém - ainda mais sendo alguém tão novo.

No entanto, não posso concordar com o minuto de silêncio que a Liga decretou para a próxima jornada, particularmente no Estádio de Alvalade. Paraty, enquanto ser humano, pode merecer todo o respeito por aquilo que terá realizado enquanto pai, marido, filho, amigo, filantropo, ou o que quer que mais tenha feito na sua vida particular. Mas este minuto de silêncio só acontecerá por ter sido árbitro de futebol - e, enquanto ex-árbitro de futebol, Paraty não merece qualquer homenagem.


Para o bem e para o mal, há que ter memória. Paraty tomou opções condenáveis na sua carreira em prejuízo direto do meu clube. Pode não ter pago por elas em vida, mas isso não apaga aquilo que aconteceu.

Ao impor o minuto de silêncio por Paraty, a Liga obriga-me a ter de escolher entre ficar em silêncio - o que seria interpretado como uma homenagem ao árbitro -, ou não ficar em silêncio - atacando o ex-árbitro, mas por inerência também o homem e a sua família. Não tenho qualquer vontade de faltar ao respeito ao homem e à sua família, mas também não tenho vontade de me desrespeitar enquanto sportinguista, cumprindo esse minuto de silêncio.

Em Alvalade, é expectável que haja quem se mantenha em silêncio e quem aproveite esse minuto para fazer um pouco de justiça ao passado que envergonhou (e ainda envergonha) o futebol português. Ambas as atitudes são perfeitamente legítimas e são ditadas pela consciência de cada um. De qualquer forma, será um dilema para muito boa gente. E se uma homenagem destas causa dilemas desta espécie, se calhar é sinal suficiente para não ser feita. 

Por uma questão de bom senso, a Liga deveria reconsiderar a realização deste minuto de silêncio em Alvalade.