quinta-feira, 26 de maio de 2016

O programa de Fernando Gomes

Foi com alguma pompa e circunstância que Fernando Gomes, atual presidente da FPF e candidato único às próximas eleições, divulgou ontem o programa para o seu 2º mandato. Numa cerimónia realizada para esse efeito, anunciou 100 medidas a cumprir durante os próximos 4 anos, onde se incluem a utilização de vídeo-árbitro na Supertaça e nas eliminatórias finais da Taça de Portugal já em 2016/17, a publicação dos relatórios dos árbitros e um combate duro à corrupção.

Não há como discordar deste tipo de medidas / intenções, mas não deixo de ficar com a sensação que isto é pouco mais que fachada. Digo-o por dois motivos:

Em primeiro lugar, por causa do timing da apresentação do programa. Foi feita a 25 de maio, apenas 10 dias antes (!) da data das eleições. Supostamente, uma candidatura deveria ser avaliada em função do programa, pelo que (a meu ver) esta apresentação já deveria ter sido realizada há meses. Considerando que Fernando Gomes está em modo de pré-campanha há algum tempo, isto significa que:
  • Andou a recolher apoios para a sua candidatura sem um programa definido.
  • Houve quem lhe prometesse apoio sem saber que programa estava a apoiar.
  • É possível (conhecendo o futebol português, é uma possibilidade muito próxima da certeza) que o programa tenha sido parcialmente definido ou influenciado em função de compromissos assumidos pelo candidato de forma a garantir determinados apoios.

Em segundo lugar, porque dá a ideia que os pontos de destaque deste programa (a adoção das novas tecnologias, o combate anti-corrupção e a defesa da transparência) são motivados sobretudo por uma questão de imagem, e não pelas convicções do candidato. Será que Fernando Gomes tocaria no assunto corrupção se o Jogo Duplo não tivesse explodido há um par de semanas? Será que se mostraria tão entusiasta com as novas tecnologias se não fossem uma evolução inevitável por iniciativa do International Board?

Não me lembro de nenhuma frase forte de Fernando Gomes sobre o problema da corrupção no futebol antes do escândalo do Jogo Duplo. Assim como não me lembro de nenhuma proposta concreta (ou sequer uma declaração clara de apoio) que tenha feito em favor do aumento da transparência ou da utilização das novas tecnologias no futebol antes de o International Board se ter decidido pela sua aplicação. Em mais de quatro anos como presidente da FPF não lhe faltaram ocasiões para o fazer.

É, portanto, um programa de candidatura à imagem de Fernando Gomes: que se deixa ir com a corrente, reagindo aos acontecimentos e abraçando o inevitável. É aquilo que é possível quando a pessoa que está à frente de uma organização tem perfil de administrativo (mesmo que seja um administrativo competente) e não de líder.