terça-feira, 31 de maio de 2016

O Sporting e o mercado: um beco sem saída

É interessante fazer uma análise comparativa aos artigos de opinião que José Manuel Delgado e Vítor Serpa escreveram, na sexta-feira e sábado passados, sobre as decisões que Benfica e Sporting têm que tomar este defeso em relação à venda ou manutenção dos seus jogadores com mais mercado.

É um facto que os clubes portugueses têm de vender para equilibrar as suas contas. Também é um facto que o futebol português não é a meta final de carreira a que aspiram os jogadores mais talentosos. Como tal, é normal que tanto os melhores jogadores do Sporting como os do Benfica tenham a ambição de progredirem para as ligas mais competitivas da Europa.

Neste momento, no que a decisões de mercado diz respeito, existe apenas uma diferença relevante entre Sporting e Benfica: teoricamente, o Benfica já fez as vendas necessárias para equilibrar as contas (Renato Sanches e Gaitán serão suficientes, considerando as receitas da Champions obtidas esta época), enquanto o Sporting ainda terá que vender pelo menos um jogador de primeira linha (Slimani? João Mário?). Em tudo o resto, as circunstâncias são iguais. 

No entanto, não será com essa ideia que um leitor do jornal A Bola ficará, após uma leitura atenta dos textos de Serpa e Delgado. Primeiro, na sexta-feira passada, Delgado, referindo-se ao Benfica, colocou o foco no equilíbrio que deve existir entre as consequências desportivas e financeiras que mais ou menos saídas de jogadores implicam.


----- INTERLÚDIO ----- 

É preciso algum esforço para uma pessoa se conseguir alhear deste exercício de bajulação vieirista com que Delgado presenteou os seus leitores. Só com muito boa vontade se pode usar o exemplo de Guedes como um caso de sucesso, quando, na realidade, foi utilizado apenas 38 minutos em TODA a 2ª volta do campeonato. O mesmo, até certo ponto, aplica-se a Nélson Semedo, que nunca se conseguiu impor após a lesão, apesar de a concorrência no plantel não ser propriamente forte. 

O argumento utilizado por Delgado em como o sucesso de Guedes e Semedo se comprova pelas suas internacionalizações A, apenas serve para expor o ridículo de algumas convocatórias e a via aberta que os jogadores de Mendes têm para chegar à seleção.

----- FIM DO INTERLÚDIO -----


Ou seja, parece-me que, no essencial - e floreados vieiristas à parte -, Delgado tem razão sobre a necessidade que o Benfica tem de vender e sobre a importância de existir um equilíbrio nas cedências que os clubes (genericamente falando) fazem ao mercado durante as janelas de transferências.

A questão é que, 24 horas depois, Vítor Serpa decidiu escrever sobre a mesma temática, mas aplicada a outro clube: o Sporting. E, não surpreendentemente, o tom do texto é bastante mais negro:


A forma como Serpa apresenta os vários cenários é coisa para deixar qualquer sportinguista à beira da depressão. Se o Sporting não vender, isso representa "um elevado esforço financeiro, com consequências perigosas para o futuro". Se o Sporting vender um par de jogadores de referência, então o risco financeiro desaparece, mas em contrapartida abre-se a Caixa de Pandora: os jogadores que permaneçam de leão ao peito mais uma época poderão ficar (usando expressões do próprio Serpa) perturbados, frustrados, injustiçados e, até, quem sabe, enraivecidos. Impávidos e serenos? Nem pensar!

Quem leia Vítor Serpa até deve ficar a pensar que este beco sem saída de mercado é um exclusivo do novo Sporting. Mas não é. E não é uma equação tão difícil de resolver quanto o diretor do jornal A Bola quer fazer crer. A carreira de um jogador não termina aos 23 ou 24 anos. É, sobretudo, uma questão de recompensar devidamente os melhores jogadores (aumentando-lhes o salário), integrando-os numa equipa competitiva e proporcionando a montra da Champions para se mostrarem. Benfica e Porto têm trabalhado assim de forma consistente (quantos anos foi Vieira aguentando Gaitán e Luisão no clube?), e no Sporting, felizmente, começa a haver condições para fazer o mesmo - basta olhar para a quantidade de renovações que têm sido feitas e para a qualidade que se tem visto dentro das quatro linhas.