domingo, 1 de maio de 2016

Sporting de outra classe

Num desafio que já era à partida de dificuldade máxima - pela carga competitiva e emocional que os clássicos sempre têm -, mas que por cima disso ainda tinha a agravante da pressão de se saber que um empate ou uma derrota significariam a perda do campeonato, o Sporting realizou uma exibição de grande nível e demonstrou, mais uma vez e de forma clara, que é a melhor equipa da atualidade em Portugal.

Como seria de esperar, o Porto fez aquilo que lhe competia e entrou em campo para ganhar o jogo. Dispôs de várias oportunidades para marcar e pode queixar-se de um penálti que ficou por marcar. Mas a verdade é que a superioridade do Sporting foi evidente durante praticamente todo o jogo - com a exceção daqueles momentos que se seguiram ao golo de Herrera, em que a equipa pareceu acusar o empate e tremeu um pouco. Mas a regra que imperou foi o domínio do Sporting, suportado sobretudo na superioridade demonstrada na batalha do meio-campo - com William, Adrien, João Mário e Ruiz a engolirem o  trio Danilo / Sérgio Oliveira / Herrera -, e pela intranquilidade que a ação de Slimani e Teo causava nos centrais adversários, claramente o elo mais fraco do Porto.

Foi a primeira vitória no Dragão para o campeonato nos últimos 9 anos, e a segunda vitória nos últimos três jogos se contarmos com a Taça de Portugal. Apesar de o Porto não estar a passar por uma boa fase, não se deve menosprezar o feito alcançado pelo Sporting - não só porque não deixa de ser um jogo difícil num terreno que, até há bem pouco tempo, era praticamente intransponível, mas também pelo que representa em termos de afirmação desta equipa no contexto do novo equilíbrio de forças no futebol nacional.



Positivo

Senhor João Mário - está a fazer uma ponta final de temporada inacreditável. O trabalho no primeiro golo é absolutamente genial: amortece a bola com o peito, em impulsão, após um passe demasiado comprido de William, para depois controlá-la com um pequeno toque com o pé que a faz passar por entre as pernas de José Angel, tirando-o do caminho, e progredindo de seguida para a área até ter uma linha de passe para Slimani que, na pequena área, apenas teve que encostar para a baliza. Foi também dele a assistência para Bruno César no terceiro golo. Foram os dois momentos altos de (mais) uma grande exibição.


A vida de Bryan - mais descaído para a esquerda, como é habitual, encheu o campo com a sua classe, e trabalhou que nem um desalmado. De certa forma, é quase um crime que seja obrigado a fixar-se numa determinada zona do terreno que o deixa tão afastado de João Mário. Destaque para os dois cruzamentos teleguiados para a cabeça de Slimani (um deu golo, o outro foi brilhantemente parado por Casillas), 

Slimani a bisar - mais dois golos do argelino, que se juntam aos dois que já tinha marcado ao Porto na primeira volta. Se no primeiro foi só encostar, o segundo foi de uma excelente execução técnica - num lance que já é um clássico do Sporting 2015/16: cruzamento de Ruiz para o poste mais distante e Slimani a cabecear no sentido contrário ao movimento do guarda-redes. 

Schelotto todo-o-terreno - uma prova de fogo que o italo-argentino superou com distinção. Incisivo no ataque, muito bem a cruzar, e bastante sólido a defender. Provavelmente a exibição mais completa que fez de leão ao peito até ao momento.

Ruuuuuuuuuuuuuuuuui - numa tarde de bastante trabalho, Rui Patrício esteve particularmente brilhante no remate ao poste de Herrera em que, com uma súbtil defesa com o pé, acabou por fazer toda a diferença. Muito bem a fazer a mancha em várias ocasiões do Porto na pequena área. E mesmo no livre de Sérgio Oliveira à barra, teria defendido se esta tivesse ido um pouco mais baixa. Que grande época.

Jogar como equipa, ganhar como equipa - é, em certa medida, injusto estar a referir apenas quatro jogadores, quando todos tiveram prestações bastante positivas, e em que, sobretudo, há um coletivo que potencia as individualidades.


Negativo

A abordagem de Coates no lance do penálti não assinalado - não sei o que se passou na cabeça do uruguaio, mas poderia ter deitado tudo a perder com o empurrão desastrado a Aboubakar. Um penálti claro que nos foi perdoado, que não só poderia dar o empate ao Porto, como também nos deixaria a jogar em desvantagem numérica - pois Coates já tinha amarelo. Não consigo compreender como não foi assinalado. A única explicação que encontro é que tenha havido alguma tentativa de compensação pelo penálti assinalado sobre Brahimi que, para além de me ter parecido forçado - há contacto entre o joelho de Coates com a anca de Brahimi, mas muito ao de leve -, é antecedido de uma falta não assinalada de Aboubakar sobre Schelotto.

A finalização, mais uma vez - João Mário, aos 5 minutos, isolado perante Casillas, faz um remate em arco que sai por cima; Slimani, já com o resultado em 0-1, falha incrivelmente na pequena área, após cruzamento de Schelotto; dois cabeceamentos na sequência de cantos que poderiam ter tido mais força (Slimani, aos 32') ou melhor direção (Coates, aos 56'); cabeceamento de Slimani, após cruzamento de (pasme-se!) Ruiz, para uma enorme defesa de Casillas; João Mário a deixar-se antecipar por André André, quando estava na cara de Casillas; não fosse o desperdício, e o jogo poderia ter acabado bem mais cedo. 



Continuamos a necessitar de um deslize do Benfica para regressar ao primeiro lugar. É óbvio que, de semana para semana, as probabilidades de tal deslize acontecer vão-se reduzindo. Não tenho nenhuma fé no Marítimo (presidido por Carlos "não farei nada para que o Benfica não seja campeão" Pereira), e acho altamente improvável que o Nacional faça o país vir abaixo na Luz. Mas a excelente carreira que o Sporting está a fazer esta época - são vários os recordes que já se bateram - merece que façamos por acreditar. Até ao último segundo.