segunda-feira, 6 de junho de 2016

A contratação de NES

Os tempos em que qualquer treinador se arriscava a ser campeão no Porto já lá vão. Atualmente, não só a qualidade do plantel está alguns furos abaixo daquilo a que os seus adeptos se habituaram, como também já não existe no Dragão uma estrutura forte e coesa que domine o futebol português e ajude a manter o balneário 100% focado nos objetivos do clube. E se para a primeira parte do problema pode existir remédio - caso o Porto se reforce de forma muito competente durante o defeso -, em relação à segunda não há muito a fazer. Como tal, seria recomendável a escolha de um treinador com capacidade reconhecida em extrair o melhor dos seus jogadores e habituado a trabalhar em clubes que lutam pelo título.

Por tudo isto, não creio que Nuno Espírito Santo seja o treinador de que o Porto precisava. Não quer dizer que o técnico não venha a ter sucesso no cargo que agora assumiu, mas, à primeira vista, não me parece que possua as características de que o clube está mais necessitado neste momento: liderança de balneário, capacidade técnica acima de qualquer suspeita, e especialista em implementar com sucesso um futebol de ataque continuado frente a equipas muito fechadas.

O Porto precisava de trocar de treinador, pois a continuidade de José Peseiro teria tudo para correr mal. Compreende-se a decisão de mudar. E, na verdade, não vejo assim tantos nomes alternativos que pudessem ser escolhidos: Jorge Jesus seria o favorito de Pinto da Costa, mas decidiu continuar no Sporting; Leonardo Jardim tem uma cláusula de salvaguarda de €12M; André Vilas-Boas não deverá querer estragar a imagem de vencedor que deixou no Porto (o único clube em que teve sucesso na sua carreira) e refugiou-se num ano sabático; Marco Silva, ao que se diz, assinou no princípio de 2015/16 um pré-acordo com o Benfica (não fossem as coisas correr mal com Rui Vitória) que ainda não expirou; e Paulo Fonseca deve ter pesadelos à noite com a experiência que teve no Porto. 

Ninguém acredita que Nuno Espírito Santo tenha sido a primeira opção de Pinto da Costa (provavelmente nem sequer segunda ou terceira), pois, se o fosse, poderia ter assinado logo quando Lopetegui foi despedido. Tendo falhado as principais hipóteses, esta escolha de Pinto da Costa não estará dissociada dos préstimos de Jorge Mendes para a contratação de alguns jogadores que elevem o nível do plantel, mas nem aí existem totais garantias: a principal motivação de Mendes costuma ser a colocação intensiva de jogadores para fazer o mercado mexer, sendo que a adequação das características dos atletas às necessidades do clube não costuma estar no topo das suas prioridades. Quando Mendes patrocina uma transferência, existem vários outros fatores em consideração: a sua comissão (o que é normal), mas também o interesse daqueles que irão receber o dinheiro da transferência (que, normalmente, é ele próprio ou clubes amigos que fazem parte do seu carrossel).

Mendes é conhecido como superagente devido aos milhões que faz movimentar, e não pelo sucesso desportivo dos jogadores que coloca. Basta olhar para muitas das transferências que tem feito nos últimos anos: os adeptos dos clubes vendedores costumam ficar bastante mais satisfeitos do que os dos clubes compradores.

Considerando tudo isto, aquilo de que o Porto não precisa neste momento é de um treinador que diga ámen a todas as sugestões de Mendes. Mas, para o bem e para o mal, Nuno Espírito Santo é um yes-man de Mendes, que no Valencia chegou ao ponto de arranjar conflitos com jogadores (perguntem a qualquer adepto valenciano como João Pereira foi afastado do clube) para abrir espaço no plantel para jogadores do seu amigo.

Há seis ou sete anos, as competências de Nuno (porque, apesar de tudo, elas existem) poderiam ser suficientes para triunfar no Porto, mas percebe-se que hoje não sejam suficientes para entusiasmar os sócios e adeptos portistas. Terá uma prova de fogo logo no princípio da época, com o playoff da Liga dos Campeões, que, correndo bem, lhe poderá dar o tempo e tranquilidade necessários para pôr a equipa a jogar como quer. Correndo mal, terá o mesmo problema dos treinadores que o antecederam: muito pouca margem para errar perante os adeptos.