terça-feira, 7 de junho de 2016

A reintegração do Gil Vicente na I Liga

A recente decisão judicial que decretou o regresso do Gil Vicente à I Liga é mais um caso que envergonha profundamente o futebol nacional.

Em primeiro lugar porque, mais uma vez, uma justiça tão lenta acaba por ser tudo menos justa, independentemente do lado em que esteja a razão. Não só a tardia decisão de reintegrar o Gil Vicente nunca poderá compensar plenamente o clube pela relegação administrativa de há dez anos, como também o Belenenses acabou por tirar proveito de uma benesse que, segundo o que foi agora determinado, não mereceu.

Em segundo lugar, porque obriga o futebol português, mais uma vez, a remodelar a sua competição principal. Em 2013/14 tínhamos 16 clubes no escalão principal. Entretanto, houve a reintegração do Boavista, que levou ao alargamento da I Liga para 18 clubes. Como seria de esperar, os clubes não tiveram muita pressa em reajustar a dimensão da competição. E agora, apenas 3 épocas mais tarde, passaremos, previsivelmente, para uma liga com 20 clubes - que é uma dimensão totalmente desproporcionada para a realidade do país. Haverá, no futebol de 1ª ou 2ª linha mundial, algum outro caso de uma liga com alterações tão frequentes? 

Para terminar, ainda temos que contar com novas injustiças / complicações que a determinação do 20º clube a participar na I Liga implicará. O que fará mais sentido: manter o União (17º classificado da I Liga) ou promover o Portimonense (o clube melhor classificado da II Liga que falhou a subida)? Ou deverá haver uma final jogada entre os dois para decidir qual ficará na I Liga? Por outro lado, não terão direito a Académica - que, caso soubesse que o penúltimo lugar poderia dar-lhe uma hipótese de salvação, teria encarado a última jornada com outra motivação - ou mesmo o Freamunde, por motivos semelhantes, a serem incluídos na discussão?

Se uma escolha por decreto não faz desportivamente sentido, uma decisão por liguilha com 2 ou 4 clubes terá a perversidade de, provavelmente, premiar o clube mais irresponsável. Considerando que nenhum dos emblemas tem a garantia de participar na I Liga, mandaria o bom senso que ajustassem o orçamento ao pior cenário possível. Se, no entanto, um dos clubes decidir arriscar e dimensionar o seu grupo de trabalho contando com as receitas da I Liga, então partirá em vantagem em relação aos demais.

A única coisa certa com que podemos contar é a existência de mais polémicas, pois é impossível tomar uma decisão que agrade a todas as partes interessadas. Não se pode dizer que a decisão de promover o Gil Vicente fosse previsível, mas, mais uma vez, registe-se a falta de proatividade de quem tem por obrigação defender os interesses do futebol português. Se isto continua assim, não tardará muito até termos uma I Liga com 22 ou 24 clubes.