quarta-feira, 8 de junho de 2016

Balanço de 2015/16: Jorge Jesus


Considerando as expetativas que a contratação de Jorge Jesus criou nos sportinguistas e o número de títulos que foram conquistados na sua primeira época, não se pode dizer que o treinador tenha tido o sucesso que desejávamos. Sendo, de longe, o técnico mais bem pago em Portugal, e trazendo a bagagem de experiência e conquistas nas duas temporadas anteriores pelo Benfica, uma época de êxito implicaria a vitória no campeonato que, como se sabe, acabou por não acontecer. Por muito pouco, é certo, mas não aconteceu.

Mas a verdade é que Jesus cumpriu aquilo que prometeu. Disse que passariam a existir três candidatos em Portugal, e naquilo que dependia dele, foi isso que se verificou. Prometeu que o Sporting iria lutar por todas as competições internas e, exceção feita à Taça da Liga (que vale o que vale), também cumpriu: no campeonato, o Benfica só conseguiu ser campeão na última jornada; na Taça de Portugal foi eliminado, pelo eventual vencedor da competição, devido a erros graves de arbitragem que prejudicaram o Sporting; e venceu a Supertaça.

É verdade que o Sporting chegou a ter, no campeonato, 7 pontos de avanço sobre o Benfica, mas o que foi verdadeiramente anormal nessa perda de vantagem foram as 23 vitórias que a equipa de Rui Vitória conseguiu nos últimos 25 jogos - algumas delas da forma que se sabe. Os números da equipa são esclarecedores em relação à qualidade que o Sporting apresentou esta época: Jesus bateu em muito o anterior recorde de pontuação do clube, colocou a equipa a jogar um excelente futebol, venceu 5 dos 6 clássicos/dérbis que disputou, e não houve nenhum jogo nas competições internas em que se possa dizer que o Sporting merecesse ter perdido. Quando assim é, fica difícil (se não impossível) apontar o dedo ao treinador por não ter conquistado o campeonato.

A qualidade do futebol praticado teve como consequência a valorização de muitos jogadores do plantel: Slimani, João Mário, Adrien e Rui Patrício jogaram ao melhor nível das suas carreiras; Ruiz e Coates regressaram a um patamar que há muito não atingiam; Schelotto e Bruno César foram adaptados com sucesso com a temporada em andamento; Gelson foi aposta consistente (e até certa altura da época, também Matheus) e tirou um coelho da cartola com a improvável aposta em Rúben Semedo.

Outro ponto positivo que deve ser realçado no treinador é a sua lealdade para com a estrutura e, em particular, para com Bruno de Carvalho. Foi toda uma época em que grande parte da comunicação social tentou abrir fissuras entre treinador e presidente, fosse pela presença de Bruno de Carvalho no banco, fosse pelas contratações não concretizadas, fosse pelo afastamento de Carrillo do grupo de trabalho, qualquer tema polémico foi explorado até à exaustão. Concordando ou não, Jesus manteve um discurso sempre alinhado - coisa que, como sabemos, nem sempre aconteceu no passado recente do Sporting -, o que é fundamental para a estabilidade do clube.

Em relação aos pontos negativos, nada que não se conhecesse já de Jesus. Os excessos no discurso ditados pelo seu ego, por se poderem virar contra si, acabam algumas vezes por prejudicá-lo mais do que causam dano aos alvos originais. E, como também é hábito, no final da época lá houve a habitual novela da continuidade. Infelizmente, burro velho não aprende línguas, e para o ano cá estaremos a criticar o mesmo. 

Resumindo, a entrada de Jesus teve um impacto qualitativo imenso no futebol do Sporting mas, infelizmente, isso não se traduziu na conquista dos títulos que a equipa fez por merecer. Ficamos, no entanto, com a certeza de que Jesus é o homem certo no lugar certo. Que continue connosco durante muitos anos.

Nota: sei que muitos não concordarão comigo, mas não considero negativo a secundarização das competições europeias. A aposta total de Jesus no campeonato fez todo o sentido e, apesar de não ter conseguido vencê-lo, a corrida até final e a pujante forma com que o Sporting terminou a época demonstrou que o treinador decidiu bem em fazer poupanças na Liga Europa. Obviamente, esta lógica já não se aplicará na futura participação na Liga dos Campeões.