sábado, 18 de junho de 2016

Campanhas

O dia de ontem foi extremamente proveitoso para perceber até onde vai a falta de noção de certas pessoas ou, em alternativa, o seu nível de hipocrisia. Deixo em aberto essas duas hipóteses, em função da consciência (ou falta dela) que têm daquilo que escrevem.

Tivemos, por exemplo, o subdiretor de um jornal a lamentar a campanha que tem havido contra Renato Sanches. Segundo esta corrente de pensamento, quem não concorda com a titularidade do jovem médio no Euro 2016, fá-lo apenas por uma questão de clubismo. E chegámos ao ponto de ver certas pessoas, alinhadas em geral com o raciocínio desse subdiretor, a puxarem da carta do racismo (!) para categorizar aqueles que discordam deles.

É verdade que têm existido (muitos) excessos na forma como se tem criticado Renato Sanches, mas aposto que esses excessos surgem sobretudo como reação à também mais-que-excessiva campanha a favor do jogador. Que, relembre-se, foi a primeira das duas a aparecer.

Quando alguém - como o tal subdiretor de jornal, ponta-de-lança da mais vasta e descarada promoção na comunicação social de um jogador na história do futebol português - começa a dizer que Renato Sanches é o melhor jogador da liga ao fim de uma dúzia de jogos, ou que devia ser titular na seleção, não está também a fazer campanha? E ao fazer campanha a favor de Renato, não estará, indiretamente, a fazer campanha contra quem tem legítimas aspirações de ser considerado nessas discussões?

Como, por exemplo, Adrien Silva. Fez uma época tremenda ao serviço do Sporting, tendo sido, efetivamente, o melhor 8 da liga portuguesa. Tanto em influência, rendimento e regularidade. Nenhum 8 apresentou os seus números. Alguém duvida que se Adrien equipasse de vermelho e branco e fosse agenciado por Jorge Mendes, seria titular de caras neste europeu, na sua posição preferencial, com a benção de grande parte da comunicação social?

Mais: alguém viu uma campanha por Gelson como se fez com Guedes? Alguém viu uma campanha por Rúben Semedo como a que se viu com Nelson Semedo?  Até Ivan Cavaleiro foi internacional ao fim de um par de jogos como titular do Benfica, e poucos na comunicação social acharam estranho.

Com ou sem Renato, com ou sem Adrien, com ou sem William, com ou sem João Mário, a campanha que realmente interessa é a da seleção portuguesa no Euro. Parece que Fernando Santos vai regressar (e ainda bem) ao 4-3-3, sinal que se apercebeu que o losango não se adequa às melhores características dos nossos jogadores. Esperemos que o resultado de logo seja positivo: não por Fernando Santos, não pela FPF, não por Jorge Mendes, não pela comunicação social, não pelos sportinguistas nem pelos benfiquistas, mas sim porque, supostamente, é um país inteiro que está a ser representado. Pena que haja muita gente com responsabilidade que não tenha o mesmo entendimento, começando pelos dirigentes federativos que cedem aos interesses de empresários e aos extremistas da comunicação social - sim, porque há mais extremismos para além do dos adeptos.