quinta-feira, 9 de junho de 2016

Cautela e demonstrações de génio nunca fizeram mal a ninguém

Não querendo parecer esquisito ou mal agradecido pela chuva de golos com que a seleção nos presenteou, penso que o resultado de ontem deve ser encarado com mais cautela do que com euforia. 

Não me entendam mal: ganhar por 7-0 à Estónia é um bom resultado. É, seguramente, muito melhor terminar a preparação para o Euro goleando do que perdendo, como aconteceu, por exemplo, com a Espanha. E, para além do moral com que os nossos jogadores terão ficado ao ver as coisas correrem tão bem, foi um deleite ver o génio de Quaresma à solta. Numa altura em que a qualidade individual da seleção está longe daquilo que era a nossa realidade há dez anos (a única geração que conseguiu consistentemente intrometer-se na discussão de competições internacionais), não se pode menosprezar a importância de termos um jogador com as características de Quaresma (um criativo puro) na sua melhor forma.


Mas a verdade é que não houve muito mais do que isso. Não nos podemos esquecer que a Estónia está abaixo das Ilhas Faroé no ranking da FIFA. Falamos de uma seleção que empatou 0-0 com San Marino na fase de qualificação para o Euro 2016. Apesar da fragilidade do adversário, a verdade é que Portugal sentiu dificuldades para criar perigo até ao primeiro golo, aos 36'. Até esse momento, as iniciativas de ataque da seleção baseavam-se sobretudo em iniciativas individuais - devido ao facto de os jogadores estarem muito afastados uns dos outros -, com poucos apoios, forçando a progressão pelos flancos para tentar o cruzamento para a área. Havendo génios à solta, até pode funcionar, mas é bastante mais fácil de anular por defesas mais competentes.

Para além da fenomenal exibição de Quaresma, houve outros dois jogadores que, provavelmente, garantiram a titularidade no Euro: Raphael Guerreiro e João Mário. Danilo e os centrais fizeram um jogo competente, mas foram pouco testados. Cristiano Ronaldo marcou dois golos, mas foram os únicos bons momentos que teve numa exibição pouco conseguida para aquilo que se espera dele: falhou uma ocasião em que seguia isolado (muito semelhante aos golos que marcou contra a Suécia naquele playoff de boa memória) e foi egoista ao não servir João Mário, que estava completamente solto, perto da marca de penálti, preferindo (mal) forçar o remate, apesar de ter um defesa adversário colado a si. Renato Sanches mostrou novamente que pode ser uma boa opção para uma fase mais adiantada na partida. William também entrou bem.

Do lado das incertezas, está a lateral direita e o meio-campo: Cédric não acertou um único cruzamento, mas Vieirinha também não convenceu; Moutinho e André Gomes não estão a dar o dinamismo necessário às posições que ocupam.

Olhando para o que foi feito nestes 3 jogos de preparação, a seleção parece estar preparada para ultrapassar a fase de grupos sem grandes dificuldades. O pior virá depois, já que a partir de determinada altura não será razoável esperarmos que as individualidades continuem a resolver sem um coletivo bem oleado. A boa notícia é que, até lá, ainda há mais 3 jogos para aperfeiçoar aquilo que tem obrigatoriamente de ser aperfeiçoado.