quarta-feira, 15 de junho de 2016

Gelo na estreia

O empate de ontem não é nenhuma catástrofe. Não compromete a qualificação - até pode dar-se o caso de três das quatro equipas do grupo se apurarem para a fase seguinte - e continuamos dependentes de nós próprios para assegurar o 1º lugar do grupo. Mas o empate de ontem, não sendo catastrófico, é preocupante. Não tanto pelo resultado, mas sobretudo pela exibição. Ao quarto jogo, continua a não haver uma ideia de jogo coerente e voltaram a repetir-se os mesmos equívocos das partidas anteriores. Não há liderança dentro e fora das quatro linhas: basicamente temos um grupo de jogadores à deriva, que vai obtendo resultados em função dos momentos de inspiração individual que vão sendo capazes de gerar.

Faltou-nos o pragmatismo e bom senso dos islandeses, que fizeram (bem) o seu jogo em função das suas qualidades e insuficiências. Alguma coisa está errada quando se vê uma seleção como a portuguesa a insistir em cruzamentos para a área, ainda mais quando defronta um adversário como a Islândia. Ou, também, no abuso dos passes aéreos em profundidade a solicitar um homem isolado na frente. Em contrapartida, a equipa raramente procurou o espaço interior, que necessita de uma velocidade de execução bastante superior e rotinas bem consolidadas para surtir qualquer tipo de efeito.

O meio-campo foi, aliás, quase inexistente. Danilo raramente ganhou uma bola na sua área de ação e em nada contribuiu com a bola nos pés. Moutinho confirmou o mau momento de forma. João Mário, encostado à linha (!) no lado esquerdo (!!!), pouco ou nada fez na primeira parte. Curiosamente, foi retirado do jogo por Fernando Santos numa altura em que começava a mostrar boas combinações com Raphael Guerreiro. André Gomes foi o menos mau do quarteto do meio-campo, mas poucas vezes conseguiu colocar a velocidade que o jogo pedia - numa das ocasiões em que o fez, Portugal marcou. A entrada de Renato Sanches adivinhava-se, mas desta vez não produziu quaisquer frutos. Quaresma e Éder foram elementos estranhos à equipa, que parecia não estar preparada para a sua entrada. Cristiano Ronaldo fez um mau jogo: não só não aproveitou as boas oportunidades que teve, como ainda secou alguns outros lances de potencial perigo - está na altura de alguém lhe dizer, por exemplo, que há melhores marcadores de livres na equipa, que não faz sentido forçar o remate à baliza de meio do meio-campo, e que é permitido procurar alternativas de passe antes de rematar com adversários em cima dele. Pela positiva, destacaram-se Ricardo Carvalho, Raphael Guerreiro e Rui Patrício. Nani fez o que pôde numa posição que não é a sua.

É verdade que o golo dos islandeses acontece por causa de um erro defensivo nosso - Pepe tinha que falar com Vieirinha se queria fazer a troca de marcações -, mas depois disso tivemos muito tempo para procurar recuperar a vantagem no marcador.

Não faz grande sentido continuar a apostar neste losango, com jogadores desligados e/ou fora de forma, e que desaproveita as melhores qualidades de muitos dos jogadores. Ao invés, continuamos sem saber o que valeria esta seleção se o conhecimento mútuo de William, Adrien e João Mário fosse aproveitado. Continuamos... e continuaremos, porque está visto que Fernando Santos só mexerá no meio-campo para colocar Renato Sanches.

Segue-se no sábado o jogo com a Áustria. Em teoria, é uma equipa com melhores valores individuais que a Islândia mas, por outro lado, talvez seja um adversário com características mais favoráveis para a seleção portuguesa. Voltando à ideia inicial: o empate de ontem não é uma catástrofe, o apuramento para a fase a eliminar não está em causa, mas começa a faltar o tempo para Fernando Santos conseguir montar uma equipa (no sentido coletivo da palavra) que se possa bater com as melhores seleções em prova na fase a eliminar.