sexta-feira, 3 de junho de 2016

Teste falhado

Se há conclusão que se pode retirar do Inglaterra - Portugal de ontem, é que nenhum dos selecionadores deve ter ficado demasiado confiante após ver aquilo que as suas equipas mostraram durante os 90 minutos. A Inglaterra, porque raramente conseguiu, em vantagem numérica, desfazer a (bem) organizada defesa de Portugal. Portugal, porque acabou por perder o jogo mas, sobretudo, pelas dificuldades reveladas sempre que tinha a bola nos pés.

As escolhas de Fernando Santos dificilmente poderiam dar outro resultado contra um adversário deste nível. Colocar Moutinho e Adrien em simultâneo é um mau princípio, pois são dois jogadores com características semelhantes, pouco amigos de se aproximarem da área com frequência. Encostar João Mário à direita, deixando-o quase sempre isolado do resto dos companheiros, é condená-lo a abdicar das suas melhores qualidades. Entregar a frente de ataque a Rafa e Nani, jogadores sem qualquer presença de área, limita de forma clara as possibilidades de a equipa poder criar perigo se o adversário estiver organizado na sua defesa e meio-campo.

É claro que este treino acabou por ser seriamente afetado pela atitude irrefletida de Bruno Alves. Aqui, podemos colocar em causa a opção de Fernando Santos em levar quatro centrais trintões: de que serve tanta experiência quando dois deles (Bruno Alves e Pepe - recorde-se a expulsão desnecessária contra a Alemanha no mundial) têm demasiados momentos de imaturidade que poderão deitar tudo a perder?

Apesar de tudo, deve-se assinalar a boa organização defensiva de Portugal. liderada por Ricardo Carvalho. Tirando o golo, as poucas oportunidades da Inglaterra surgiram a partir de perdas de bola de jogadores portugueses na proximidade da área. Bom jogo, também, de Rui Patrício. Se Fernando Santos insistir em jogar com dois ou três box-to-box em 4-4-2, então Quaresma tem que ser um dos dois avançados titulares, pois é o único jogador que, neste momento, é capaz de criar desequilíbrios por si só. Renato Sanches pode ser uma arma interessante para lançar numa fase em que o jogo já esteja mais partido.

Ainda é cedo para fazer soar os alarmes após o 2º jogo em que a seleção mostrou muito pouco futebol, mas Fernando Santos tem de acabar com as experiências e começar a criar / consolidar rotinas ofensivas que permitam à seleção criar desequilíbrios de forma coletiva. Confiar exclusivamente em lances de inspiração individual ou de bola parada para criar perigo, será meio caminho andado para uma participação no Euro mais curta do que todos desejamos.

P.S.: excelentes os comentários de Jorge Jesus ao jogo. Seria muito bom que convites destes se repetissem nesta campanha do Europeu.