quinta-feira, 16 de junho de 2016

The show must go on

Pior do que ver o sofrível jogo português contra a Islândia, foi ter de ler e suportar, no dia seguinte, a forma ligeira como a maior parte da comunicação social o relativizou. 

Não digo que seja caso para se estar já a pedir a cabeça de Fernando Santos, mas mete impressão ouvir certos especialistas a malharem em determinados jogadores sem fazerem um apontamento sequer ao selecionador pela escolha e distribuição das peças em campo. João Mário esteve vários furos abaixo do que se esperaria? Sim, mas será que se pode exigir que renda o normal quando é colocado numa posição que nunca fez na vida? Moutinho voltou a desiludir? Sim, mas aqui a palavra-chave é voltou. O improvável seria haver uma exibição ao nível do Moutinho que jogava no Sporting e no Porto.

Outro exemplo: colocar, como se colocou, o foco na quantidade de remates feitos pela seleção, é estar a tentar fazer um filme diferente do que foi a realidade. Dos 26 ou 27 remates, quantos tinham efetivamente uma elevada probabilidade de dar em golo? Poucos, sendo que, desses poucos, dois foram cabeceamentos de Nani. Repito, cabeceamentos de Nani

Que Fernando Santos tente vender o seu peixe, procurando convencer-nos de que a equipa se exibiu num nível "médio/alto", e que "o futebol é assim", é normal. O que não é normal é que a Comunicação Social se dispense de fazer o devido contraditório ao selecionador, e de pedir explicações pelo conservadorismo das suas opções num jogo que era para ganhar de caras. Enquanto houver esperança, vão-se queimando uns jogadores atrás dos outros, e as opções do selecionador são testadas como uma espécie de dogma que não se pode questionar.

A cobertura que nos é oferecida nas fases finais da seleção aproxima-se, cada vez mais - e de forma generalizada -, da abordagem cor-de-rosa à la Nuno Luz e Daniel Oliveira, tudo a bem de um (suposto) desígnio nacional que importa manter, mesmo que isso implique que se maquilhe tudo aquilo que não está bem. The show must go on

Infelizmente, não se apercebem que um pouco de pressão sobre quem decide pode ser benéfico, se feita nas doses certas, podendo inclusivamente ser um contributo para que o tal espetáculo se prolongue mais no tempo, apesar de os tons rosa empregados não serem tão shock.