quinta-feira, 28 de julho de 2016

A contratação do ano


Pure class from Sporting Clube de Portugal ✌
Publicado por The Sun Football em Quarta-feira, 27 de Julho de 2016


Aproveito para partilhar uma experiência pessoal relacionada com este tema. Há cerca de 15 anos registei-me como dador de medula óssea no Centro de Histocompatibilidade do Sul, que fica no complexo do Hospital Pulido Valente. O processo foi rápido: para além de ter de dar os dados pessoais necessários, tiraram-me uma pequena amostra de sangue que, posteriormente, serviu para me registar numa base de dados de doação global de medula óssea. Foi apenas isto. "Perdi", neste processo (incluindo o tempo de ida e volta para casa), cerca de duas horas de uma manhã de férias. 

Entretanto mudei de casa e de número de telemóvel. Coloquei os meus novos dados pessoais num formulário disponível no site do CHSUL, mas aquilo era um mero formulário, sem qualquer tipo de validação ou autenticação - qualquer indivíduo poderia colocar dados pessoais, verdadeiros ou falsos, sobre qualquer pessoa. Fiquei convencido de que a minha ficha não seria atualizada. Telefonei para o CHSUL, que me confirmou que o processo era mesmo aquele.

Há cerca de um ano, recebi um telefonema: o meu nome foi assinalado como sendo potencialmente compatível com alguém com necessidade de transplante de medula. Quiseram confirmar se estavam mesmo a falar comigo, porque o número de telefone que tinham registado na minha ficha estava desligado - ou seja, a atualização de dados que fizera anos antes não serviu mesmo para nada. Segundo o que me disseram, encontraram o meu número de telefone através de outra base de dados do Estado. 

Perguntaram-me se ainda estava disponível para doar medula. Respondi afirmativamente, como é óbvio. Explicaram-me então o processo de uma forma resumida. Precisavam de fazer uma nova colheita de sangue para verificarem se estava apto a ser dador e para confirmarem se seria um dador compatível ou não. Disseram-me que poderia escolher o local e a hora da colheita, dentro da rede de hospitais preparados para o efeito, em função da minha disponibilidade. Era apenas uma questão de me identificar à entrada como dador de medula óssea, para ser então encaminhado para o local da recolha. Era-me impossível ir no próprio dia, pelo que acabei por ao final da tarde do dia seguinte. Explicaram-me o resto do processo (espero não estar a escrever qualquer incorreção) enquanto retiravam a amostra de sangue. Caso fosse compatível, poderia escolher entre dois métodos de extração de medula: uma que se assemelha à doação de sangue, que demora apenas um par de horas, e outra, mais prolongada, que envolve anestesia (porque há quem não goste da ideia de ter uma agulha espetada no braço). E, como é evidente, nunca viria a saber quem seria o recetor da medula, tal como o recetor da medula nunca viria a saber quem a doou. Tudo isto não demorou mais de uma hora.

Tirando o facto de ser Pai, nunca me senti tão importante na minha vida. A possibilidade de fazer uma diferença tão grande na vida de alguém - só através da minha existência e disponibilidade - causou-me um sentimento avassalador simultâneo de responsabilidade e privilégio, mesmo não fazendo ideia de quem estava do outro lado.

Acabei por receber uma carta, um mês depois, dizendo que tinham encontrado um dador mais compatível.

Mas é tão simples quanto isto: em não mais que 5 ou 6 horas, qualquer um de nós poderá contribuir para salvar a vida de outra pessoa. Qualquer um de nós poderá ser a melhor contratação para uma família como a do pequenito Francisco, de todos os outros Franciscos que batalham com a mesma doença, e de todos os Franciscos que, infelizmente, um dia, terão que enfrentar esta doença aflitiva.

Centros de histocompatibilidade: LINK

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4200-465 PORTO
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E-mail: administ@chn.pt

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3001-301 COIMBRA
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Centro de Histocompatibilidade do Sul
Alameda das Linhas de Torres, n.º 117
1769-001 LISBOA
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