segunda-feira, 11 de julho de 2016

A noite histórica dos underdogs


Se, há um par de meses, um argumentista decidisse escrever o guião do jogo de ontem tal como acabou por acontecer, provavelmente não o conseguiria vender a nenhum estúdio. Toda a gente tolera um pouco de fantasia nas histórias em que um underdog luta para ultrapassar todas as adversídades que se atravessam no seu caminho, mas idealizar uma final em que Portugal venceria a seleção anfitriã sem Cristiano Ronaldo desde os dez minutos e com um fenomenal golo de Éder, seria demasiada ficção para ser levada a sério.

No entanto, para nossa imensa felicidade, foi isso mesmo que aconteceu. Perante a lesão do jogador em que se depositava toda a fé de um país, os onze bravos que ficaram em campo souberam carregar a responsabilidade acrescida que lhes caiu nos ombros: nomeadamente Rui Patrício, que fez uma exibição memorável com quatro ou cinco defesas que nos mantiveram a um golo do sonho; Pepe e Fonte, que estiveram irrepreensíveis como sempre; William e João Mário, que não foram menos gigantes que os gigantes que defrontaram; e, claro, Éder, o herói improvável que, com o seu golo, calou, no melhor momento possível, todos aqueles (eu incluído) que achavam que não tinha lugar na convocatória,

O golo de Éder, aliás, passou a ser o mais importante da história do futebol português, e o mais provável é que passem várias décadas até ser destronado ou igualado. Alguém imaginava que isto viria a acontecer?

E, evidentemente, há que dar o devido mérito a Fernando Santos, pelo facto de ter conseguido vender a sua ideia de jogo ultra-conservadora ao grupo de trabalho com aquela vitória à Croácia. O selecionador sabia que seria impossível Portugal ser a melhor seleção do Euro, mas também sabia que bastava sermos apenas um pouco melhores do que todos adversários que nos calhassem em sorte. Fernando Santos correu imensos riscos por essa opção, tantos quanto os riscos que não correu dentro de campo, pois seria responsabilizado por todos se a aposta não desse frutos. 

A maior ironia é que ao assumir uma estratégia predominantemente defensiva, tornou a seleção menos dependente de Ronaldo do que alguma vez tinha sido nos últimos oito anos - e isso acabou por dar um jeito imenso  ontem, quando a equipa ficou orfã do seu super-craque.

Desfrutemos do melhor momento de sempre do futebol português. Parabéns a Fernando Santos, parabéns a todos os jogadores, parabéns a todos nós!