quinta-feira, 7 de julho de 2016

Não foi uma exibição de gala, mas chegou para Gales

Pela segunda vez, a seleção portuguesa conseguiu-se apurar para a final de uma grande competição internacional, o que, por si só, faz desta campanha um acontecimento histórico do nosso futebol. Por esse facto, estão obviamente de parabéns os jogadores e a equipa técnica. Duvido que, enquanto deixávamos correr os segundos finais da partida contra a Hungria para segurar o empate que nos garantia um perigoso 2º lugar no grupo F, fossem muitos os portugueses que acreditavam que a nossa participação se iria estender até ao jogo de todas as decisões. Mas a verdade é que, efetivamente, existiam razões para não acreditar que tal fosse possível, tão pobre foi o futebol apresentado contra adversários acessíveis - basta ver como a Bélgica e a França despacharam a Hungria e a Islândia. Da mesma forma que devemos dar os parabéns ao grupo de trabalho liderado por Fernando Santos, também devemos agradecer calorosamente a Traustason pelo golo que marcou à Áustria já depois do final do nosso jogo com a Hungria, que nos atirou para a metade boa do quadro a eliminar. 

Basta um pouco de racionalidade na análise ao desempenho da nossa seleção para se concluir que estaremos longe de ser os favoritos na final de Paris, independentemente de nos calhar a França ou a Alemanha no caminho. Chegámos até aqui sem apanhar seleções desse calibre, e no domingo iremos sentir pela primeira vez as dificuldades que só se sentem contra seleções desse calibre. A boa notícia é que numa final tudo pode acontecer, como descobrimos de forma tão amarga em 2004. E considerando tudo aquilo que aconteceu até agora, há motivos para acreditarmos que os deuses do futebol estão equipados de verde Colgate.


Para não destoar, ontem tivemos uma primeira parte que foi mais do mesmo: muitas cautelas defensivas e um ataque baseado em remates de meia distância e bolas bombeadas para a área logo que existissem condições para isso. No entanto, a seleção começou a dar sinais de alguma qualidade no final da primeira parte, com os jogadores a fazerem finalmente um esforço visível para jogarem juntos - com Adrien e Guerreiro a revelarem um bom entendimento na esquerda, e João Mário e Ronaldo a fazerem uma triangulação que permitiu uma rara incursão na área adversária com recurso ao jogo interior. A segunda parte não começou propriamente bem, mas depois vieram os cinco minutos do nosso contentamento: um incrível golo de Ronaldo (com um tempo de salto que nos faz questionar se as leis da gravidade se aplicam ao capitão da seleção da mesma forma que ao comum dos mortais) a cruzamento de Guerreiro e um desvio de Nani a um remate falhado de Ronaldo (bem Renato a aperceber-se que estava fora-de-jogo e a deixar a bola passar) colocaram-nos muito próximos da final. Faltou-nos o 3-0, que esteve nos pés de João Mário e Danilo, numa altura em que Gales arriscava o que podia na frente.

Individualmente, destaco Ronaldo, Adrien, Raphael Guerreiro, José Fonte e Rui Patrício. Não havendo problemas físicos até domingo, parece-me que Fernando Santos não terá grandes dúvidas em relação ao onze que utilizará na final: Patrício; Cédric, Guerreiro, Pepe e Fonte; William, Adrien, J. Mário e Renato; Ronaldo e Nani. Em função daquilo que temos visto neste europeu, é claramente a melhor equipa que podemos apresentar.

Resta-nos esperar pelo França - Alemanha de logo, com um ponto de interesse acrescido: se a Alemanha ganhar, Portugal qualifica-se automaticamente para a Taça das Confederações, que se disputará na Russia em junho de 2017.