domingo, 21 de agosto de 2016

À falta de nota artística, saber sofrer é uma enorme virtude

Numa partida que se adivinhava difícil, o Sporting apresentou-se na Mata Real com Slimani na frente, mas sem João Mário no apoio.

Gelson foi o jogador escolhido por Jorge Jesus para ocupar a ala direita, mas o corredor direito foi menos dinâmico do que é habitual e a maior parte dos lances de perigo acabou por surgir pelo lado oposto. Mas estranho seria se não se notasse a falta de um enorme jogador que foi titular do Sporting nos últimos dois anos, e logo contra um adversário complicado no seu estádio. Essa falta irá continuar a sentir-se, naturalmente, mas a expetativa é que a equipa vá encontrando, gradualmente, novas soluções em função das características dos jogadores que ficam. E, justiça seja feita, Gelson acabou por ser um dos jogadores decisivos na partida de ontem.

A primeira parte foi de domínio quase absoluto do Sporting, mas sem que isso se traduzisse numa grande quantidade de oportunidades para marcar. Alan Ruiz e Slimani obrigaram Defendi a aplicar-se por três vezes, mas as redes acabaram por ser agitadas perto do intervalo, quando o Sporting desenhou uma jogada perfeita: Slimani recupera na linha de fundo uma bola que parecia perdida, metendo-a em Bruno César, que cruzou para o segundo poste onde estava Gelson. O extremo amorteceu para Adrien, que concluiu a jogada à meia-volta com um remate de belo efeito.

A segunda parte recomeçou com o Sporting a carregar na tentativa de obter o golo da tranquilidade. O esférico andou muito próximo da baliza do Paços, mas o domínio registado voltou a não se traduzir em grande chances de golo. Carlos Pinto conseguiu virar o sentido da partida colocando Ivo Rodrigues e Cícero, e nos últimos 15 minutos já se viu muito mais bola junto à área do Sporting, culminando numa ocasião em que Cícero apareceu isolado perante Rui Patrício, mas que Coates limpou de forma imperial. De resto, apesar das tentativas pacenses, não existiu qualquer outro lance que causasse calafrios aos inúmeros sportinguistas presentes. 

Não houve nota artística elevada, mas no último quarto de hora viu-se uma outra coisa que, na falta disso, e em situações de vantagens mínimas, dá tanto ou mais jeito: saber sofrer.



O melhor Adrien - já se sabe que o CM é o CM, mas suponho que a exibição de ontem tenha convencido aqueles quem possam ter ficado na dúvida sobre se existe alguma veracidade na notícia da capa de sábado, que dizia que o capitão quer sair do Sporting. Adrien está feliz no Sporting, e voltou, à semelhança do fim-de-semana passado, a ser o melhor em campo. Batalhador, com várias iniciativas individuais a empurrar a equipa para a frente (sobretudo na primeira parte) e um golo que valeu três pontos.

Dupla de betão - fica mal falar de betão para descrever algo sólido na capital do móvel, mas tivemos uma exibição de grande nível dos dois centrais. Imperiais no jogo aéreo e muito eficientes no controlo das investidas dos adversários, não deixaram que o Paços dispusesse de uma única oportunidade que fosse dentro da área (com exceção de uma em que houve um fora-de-jogo não assinalado, e que obrigou Patrício a jogar-se aos pés de um adversário para agarrar a bola). Na única vez em que a dupla não matou o perigo à nascença, Cícero conseguiu desmarcar-se de Coates no limite do fora-de-jogo, mas o uruguaio recuperou em tempo útil e fez um enorme corte na hora H.

Segunda assistência de Gelson - ainda não está no ponto em termos de capacidade de decidir o que fazer com a bola no momento certo, mas, à semelhança do que aconteceu com o Marítimo, foi crescendo no jogo à medida que o tempo foi passando e fez uma assistência para golo.

A Onda Verde - invadiu Paços de Ferreira, praticamente esgotando a lotação do estádio. Jogando em casa, a tarefa fica muito mais fácil para os nossos rapazes.

O estádio do Paços - numa liga em que ainda abundam relvados de má qualidade, é de louvar o esforço feito pelo Paços de Ferreira em melhorar as condições do seu estádio. Novas torres de iluminação, nova bancada em construção e um excelente relvado. Fosse sempre assim.




Inteligência na gestão dos últimos minutos - o Sporting é uma equipa mais madura neste aspeto do jogo do que há dois anos, mas ontem poderia ter feito um melhor trabalho. Lembro-me, particularmente, de Bruno Paulista ter decidido fazer um cruzamento para Slimani, aos 90'+1, onde estavam 4 defesas do Paços contra 2 avançados nossos, e sem que houvesse alguém à entrada da área para disputar uma segunda bola. Resultado: o cruzamento saiu curto e oferecemos uma bola ao adversário, em vez de manter a posse e deixar correr o tempo para esgotar os dois minutos que faltavam.

Uma tendência que já se via na época passada - todos sabem que Hugo Miguel é um árbitro permissivo. Não surpreende que nunca tenha agido disciplinarmente perante a sucessão de entradas duras de jogadores do Paços. E também não surpreende ninguém que, à primeira oportunidade, tenha mostrado um amarelo a William por uma suposta interrupção de ataque prometedor, quando, na realidade, William nem sequer tocou no adversário. Ou seja, ficámos com o médio defensivo condicionado durante mais de metade do jogo. Regressou aquela tendência que andou muito na moda na época anterior: os árbitros vão mantendo os amarelos no bolso, mas só até ao momento em que um jogador do Sporting faça uma falta merecedora de cartão.



Patrício entre os centrais - já tinha acontecido contra o Marítimo, mas ontem foi mais frequente ver Rui Patrício avançar para o meio dos centrais no início de construção. Já todos nos tínhamos apercebido que existe um maior à-vontade do guarda-redes em jogar com os pés, e Jesus parece querer tirar partido disso. Dispensando William dessas funções, é mais uma linha de passe potencial que se abre nas saídas para o ataque. Vamos ver se é para continuar.



Vitória difícil, como é típico em Paços de Ferreira, mas importantíssima em vésperas de clássico. Fica o desejo de que os dossiers de João Mário e Campbell se resolvam rapidamente para não condicionarem a preparação do jogo com o Porto.