terça-feira, 16 de agosto de 2016

Foi você que pediu... um novo paradigma?

Supertaça atribuída e primeira jornada cumprida, e começam já a surgir as opiniões sobre as primeiras confirmações e certezas - para quê esperar, um mês que seja, para ver um pouco mais dos jogadores e equipas perante diferentes tipos de oposição? - sobre a qualidade dos novos protagonistas e sobre o poderio dos candidatos ao título. Nuno Farinha deu a sua na edição de ontem do Record:


(via Leoninamente)

Sobre o Benfica, Nuno Farinha diz que o plantel é de luxo e que "os reforços passaram a ser jovens carregados de ambição e margem quilométrica para evoluir e valorizar". Ora, se os reforços  passaram a ser jovens ambiciosos e com enorme potencial, é porque não o eram num passado recente e agora já são.

Confesso que tenho dificuldades em perceber o que é mudou exatamente para se poder dizer tal coisa. Usando os exemplos do próprio escriba, David Luiz foi contratado pelo Benfica com 19 anos, Coentrão com 19, Javi Garcia com 22, Ramires com 22, Di Maria com 19, Garay com 24, Enzo com 25, Witsel com 22, Matic com 22, e não consta que faltasse ambição ou margem de valorização a qualquer um destes jogadores. E ainda poderíamos juntar outros exemplos como Rodrigo (19), Gaitan (22), Salvio (20), Oblak (subiu com 20 ao plantel principal, contratado com 17) ou Markovic (19). A regra já era a aposta em jogadores novos e com potencial. É verdade que, pelo meio, foram sendo contratados jogadores feitos como Lima (29), Saviola (27), Aimar (28), Jonas (30) ou Júlio César (34), mas estes casos sempre foram uma minoria no universo (e que grande universo é) das contratações do Benfica.

Será um cenário assim tão diferente das contratações das últimas duas épocas, onde se incluem Jimenez (24), Carcela (26), Taarabt (26), Grimaldo (20), Mitroglou (27), Ederson (21), Cervi (22), Benitez (23), Celis (23), Horta (19), Carrillo (25), Zivkovic (19) e Danilo (20)? Sinceramente, não me parece.

O que me parece é que estamos perante a tentativa de criação e imposição de um novo paradigma benfiquista ao país futebolístico. O ex-novo paradigma da aposta na formação (que durou uma única época, aparentemente) foi colocado (para já) na gaveta - para quem não reparou, nenhum jogador da formação benfiquista foi integrado no plantel desta época -, pelo que há que arranjar rapidamente um novo paradigma: o da contratação de jovens ambiciosos e com potencial. Pouco importa o facto de isso ser exatamente aquilo que o Benfica tem feito (com bastante sucesso, há que admitir) de há muito anos para cá.

P.S.: pertinente a observação de Nuno Farinha sobre a dificuldade que o Sporting terá em substituir João Mário. É curioso, no entanto, que o mesmo jornalista que a meio do Euro 2016 declarou que não seria surpreendente se Renato Sanches fosse considerado o melhor jogador da competição (não melhor jogador jovem, atente-se; referia-se ao melhor jogador entre todos os que participaram) não revele qualquer preocupação com a falta que o agora médio do Bayern poderá fazer no meio-campo do Benfica nesta época. A sentença está ditada: o plantel é de luxo e pelos vistos há matéria-prima que chega e sobra para fazer esquecer Renato, como Samaris e, acima de tudo, o novo herói do povo que foi encontrado ao fim de dois jogos oficiais: André Horta. Pelo menos, ao nível das capas de jornal, a substituição de Renato Sanches parece estar resolvida.