segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O leão mostra que tem um guarda-roupa diversificado

Ainda sem tempo para digerir completamente a saída de João Mário, a generalidade dos sportinguistas virou as agulhas para o jogo de ontem interrogando-se sobre quais as escolhas iria Jorge Jesus fazer contra o Porto, de forma a garantir simultaneamente o equilíbrio coletivo necessário que minimizasse os argumentos de uma equipa que é muito perigosa, e a capacidade de desequilibrar para decidir o jogo a seu favor, que o médio português, agora jogador do Inter, oferecia. Surpreendentemente (pelo menos para mim), retirou Alan Ruiz, desviando o outro Ruiz para o apoio a Slimani, e colocou Bruno César como médio ala, mas com um twist: perante as dificuldades que Ruiz revelou para operar com a marcação de Danilo, Jesus fê-lo trocar de posição com Bruno César após o segundo golo do Sporting. A opção resultou em pleno, e isso ajudou o Sporting a controlar totalmente a partida a partir do momento em que se viu em vantagem no marcador, coisa que, é preciso reconhecer, ainda não tinha conseguido fazer até esse momento.

A verdade é que o jogo não começou bem para o Sporting. O Porto entrou muito bem, autoritário e dinâmico, conseguiu chegar rapidamente à vantagem, ficando numa situação mais confortável para Nuno Espírito Santo e perigosa para o Sporting: o Porto podia oferecer a iniciativa de jogo ao adversário e apostar no contra-ataque. Felizmente, sem que o Sporting tivesse feito muito por isso, o empate e a reviravolta acabaram por não tardar.

Só a partir desse momento é que o Sporting conseguiu controlar efetivamente a partida, dispondo de mais oportunidades que o adversário, e mereceu inteiramente a vitória. Mostrou, também, numa altura em que o tema mais debatido é a falta que poderão fazer os jogadores que estão de saída, que tem ainda no guarda-roupa vários fatos à medida, que poderão ser usados a qualquer momento, em função da ocasião: não só a polivalência de Bruno César, mas também dois laterais que, no final da época passada, eram suplentes, um Bruno Paulista que promete entrar nas contas para esta época, para além de Alan Ruiz e dos últimos reforços que chegaram: Campbell - que já deixou um pouco do seu perfume -, Dost, Castaignos, Meli, André e Douglas.





Robot Semedo - imperial pelo ar, intransponível pelo chão, impressionou pela forma como limpou todos os lances de perigo que ocorriam na sua zona de ação, incluindo um carrinho de alto risco na área para desarmar Herrera. Uma máquina.

Bruno César, o joker - há os motivos que expliquei atrás, e acrescento o empenho que colocou em campo e o livre batido à barra que antecedeu o golo de Slimani. Jesus tem aqui uma carta capaz de desempenhar várias funções de forma extremamente competente: lateral, médio ala e segundo-avançado.


Ominpresente William - fez um jogo monstruoso. Inúmeras recuperações de bola, enorme segurança na condução, e foi melhorando à medida que o relógio foi avançando. A entrada de Paulista permitiu-lhe subir mais vezes no terreno, onde também pareceu muito confortável.

Os laterais - Marvin mostrou, novamente, que é um jogador fiável defensivamente contra equipas mais fortes. Arriscou uma vez ou outra a subida pelo flanco, conseguindo uma exibição positiva. João Pereira passou por mais dificuldades com Otávio, mas no deve e no haver saiu vencedor no duelo. Fez um corte fulcral a Adrián, já nos descontos, que festejei como se fosse um golo.

Gelson decisivo - não teve um jogo propriamente feliz - na linha do que já tinha acontecido em Paços de Ferreira - mas foi, pela terceira vez, decisivo. Marcou um golo e foi fundamental noutro, levando já 1 golo e 2 assistências em 3 jornadas. Apetece-me dar-lhe um raspanete por ter tirado a camisola, mas, que raio!, é apenas um miúdo que tinha acabado de marcar o seu primeiro golo num jogo desta importância, por isso desta vez escapa. Mas que não volte a acontecer.

Mais um para Slimani - um golo na (suposta) despedida de Alvalade, que aconteceu apenas porque tem aquele hábito de nunca deixar de lutar por uma bola que pareça ter o destino ditado. Vendo a repetição, é bem provável que a bola não chegasse a transpor a linha de golo, fosse pelo efeito caprichoso que levava, fosse pela iminente ação de Casillas. Quanto às lágrimas no final, terei que falar sobre isso num post à parte.

O ambiente no estádio - ruidoso, apaixonado e eletrizante. Atmosfera incrível em Alvalade durante toda a partida.



Algum desleixo a sair para o ataque - principalmente na primeira parte, foram demasiadas as ocasiões em que perdemos a bola no nosso meio-campo, oferecendo várias oportunidades de transição ao Porto. É verdade que o Porto ocupava bem os espaços e pressionava em dois terços do terreno, mas não foi por aí, pois muitas dessas perdas não foram forçadas. Coates, Adrien e Gelson foram os maiores prevaricadores.

A @$%*! dos olés - considerando o nosso passado recente no panorama dos olés-prematuros-que-antecederam-baldes-de-água-gelada-em-clássicos, seria de esperar QUE NÃO O VOLTÁSSEMOS A FAZER A POUCOS MINUTOS DO FIM, ESTANDO A VENCER APENAS POR UM GOLO. É certo que foi uma troca de bola deliciosa - que nem apreciei devidamente por estar a antever mais um golo de Jardel no último minuto, mesmo não estando Jardel em campo -, mas vamos lá parar com isto. Nestas coisas não devemos facilitar... na época passada, nas únicas vezes em que se experimentou a hola mexicana (com resultados em 5-0 e 3-0), conseguimos a proeza de sofrer golos nesse preciso momento. Ah, e tal, a festa nas bancadas é bonita, mas, se faz favor, não voltemos a arriscar em circunstâncias destas. 



A opção Paulista - mais uma vez, Jesus apostou no brasileiro, mas agora deu-lhe mais tempo de jogo. Entrou aos 68' para o lugar de Ruiz para dar maior consistência ao meio-campo. Belo jogo, excelentes apontamentos - visão de jogo, velocidade e raça -, e a ideia de que está aqui uma excelente solução para o meio-campo para a época.

A estreia de Campbell - bons pormenores técnicos, mas ainda se nota (naturalmente) alguma falta de ligação ao resto dos colegas. Excelente o trabalho a segurar a bola junto à bandeirola de canto, perto do final - foi muito útil para fazer correr o relógio.

A arbitragem - foi contestada a arbitragem de Tiago Martins, sobretudo pelos lances dos dois golos - muito protestados por Casillas. Boas decisões em ambos os casos: no primeiro golo, Gelson domina com o peito; no segundo golo, a bola bate efetivamente no braço de Bryan Ruiz, mas o costa-riquenho tem o braço encostado ao corpo e não tem forma de evitar o alívio à queima de Marcano. Gostava de saber, no entanto, se Jorge Jesus é o único treinador da Liga que manda bocas aos árbitros durante os jogos.



Foi o melhor tónico possível para combater a depressão gerada pela saída de João Mário e Slimani. Continua a haver muita qualidade no plantel, e as últimas contratações levam a crer que a quantidade e qualidade de opções à disposição de Jesus lhe poderão causar boas dores de cabeça. Agora é aproveitar a pausa para as seleções para começar a integrar os recém-chegados, com aquela tranquilidade de alma que só uma liderança isolada consegue dar.