sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Ano de transição ou de falta de noção?


Desportivamente falando, esta semana não foi particularmente favorável ao Porto, muito por culpa da derrota em Inglaterra ante o Leicester. Mas, ainda assim, a semana conseguiu ser muito pior ao nível das declarações que duas figuras do clube fizeram à comunicação social.


As declarações de Pinto da Costa ao Porto Canal

O primeiro a falar foi Pinto da Costa, em vésperas do jogo para a Liga dos Campeões:


É estranho que, só agora, o presidente portista refira que esta é uma época de transição e de transformação. Normalmente, estas coisas anunciam-se por antecipação, e não com o comboio já em andamento. Mas se o timing não faz qualquer sentido, a própria ideia que o presidente portista está a tentar passar consegue ser ainda mais absurda. É uma época de transição em quê, exatamente? O que mudou radicalmente, dos anos anteriores para este ano, na abordagem à época?

O Porto fez algum tipo de downgrade nos seus objetivos em relação ao que é habitual? Não, continua a ser um forte candidato a ganhar todas as competições nacionais e a passar aos oitavos da Champions. O Porto inverteu a política de aproveitamento da formação de forma clara? Não, pois André Silva, que já tinha sido lançado no final da época passada, continua a ser a única aposta recente. O Porto deixou de investir no plantel? Não, foi a segunda equipa (a seguir ao Benfica) que mais investiu em jogadores neste defeso: só em Telles, Depoitre, Boly, Layún e Felipe, o Porto gastou 30 milhões de euros, para não falar nos 42 milhões que Óliver e Diogo Jota poderão vir a custar caso a opção de compra seja exercida. 

O que mudou, então? Mudou o treinador, mas isso, por si só, não justifica que se descreva a época como sendo de transição. O Manchester City, o Bayern e o Manchester United também trocaram de treinador, e não deixarão de lutar pelos seus objetivos internos. E saiu Antero Henrique, mas já depois de fechado o período de transferências, pelo que não foi por aí que as bases de ataque à época foram diferentes dos anos anteriores. A única coisa diferente em relação às épocas anteriores foi a incapacidade de o Porto vender os seus melhores jogadores, mas isso não prejudicou a formação do plantel.

Portanto, não existem quaisquer bases visíveis para se etiquetar esta época como sendo de transição.

Pior ainda, foi a figura de avestruz a enterrar a cabeça na areia que o presidente portista fez ao dizer que as assobiadelas vêm apenas dos borlistas que estão no estádio a convite dos parceiros comerciais do clube. Não faz qualquer sentido.

Tem sido óbvio, nos últimos tempos, que o presidente portista está longe da sua melhor forma nas declarações à comunicação social. Recorde-se, por exemplo, que ainda em abril passado, numa altura em que o clube ainda estava envolvido em várias competições, Pinto da Costa fazia já o lançamento da época seguinte, garantindo que Otávio, Josué e Rafa Soares iriam fazer parte do plantel do Porto. Acertou em 33%, pois Josué acabaria por forçar a saída e a contratação de Alex Telles retirou espaço a Rafa Soares. Cada vez são mais óbvias as dificuldades que Pinto da Costa tem em controlar o que se passa no clube, o que é natural atendendo à sua idade. As sucessivas infelizes declarações à comunicação social são apenas a parte mais visível do seu declínio. Todos os ciclos têm um fim.


As declarações de Nuno Espírito Santo ao The Guardian

Mais do que infelizes, as declarações que Nuno Espírito Santo fez ao jornal inglês The Guardian entram no domínio do surreal. Para quem não teve oportunidade de ler, eis a tradução feita pelo blogue Mister do Café:


É incrível - e bastante revelador - que Nuno Espírito Santo não se tenha inibido de contar publicamente este episódio, que envergonharia qualquer pessoa que preze o seu bom nome. Uma tremenda falta de ética e de respeito para com o seu clube na altura, e que acaba por ajudar a compreender a carreira de Nuno enquanto jogador mas, também, enquanto treinador.

A explicação mais óbvia é que se trata de uma total falta de noção de Nuno Espírito Santo. Mas também pode haver outra hipótese: se Nuno se sentiu à vontade para dizer isto publicamente, é porque acha que os benefícios de revelar tamanha intimidade com Jorge Mendes se sobrepõem aos prejuízos que isso possa fazer à sua imagem. E, se calhar, NES até tem motivos para pensar assim: até agora, as três oportunidades que lhe surgiram como treinador principal, foram-lhe entregues por Mendes sem que tivesse feito o suficiente para as justificar.