segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Jesus contra Jesus

O Sporting não perdeu ontem por Jesus ter dito aquilo que disse na conferência de imprensa de sábado. Jesus disse o que disse porque acredita que as suas equipas são melhores, coisa que, em certa medida, tem razão de ser. Jesus é, taticamente, melhor do que qualquer outro técnico da Liga NOS. Mas não é infalível, e muito menos faz milagres. Comete disparates como qualquer outro treinador. O problema é que o discurso de Jesus faz com que seus os disparates se notem mais. Ontem notaram-se, e de que maneira.

Jesus também diz que os treinadores portugueses são taticamente mais evoluídos que a generalidade dos treinadores de outros países. Acredito que Jesus acredite nisso, e também tem bons motivos para isso. Deveria, portanto, estar em alerta permanente, sem nunca facilitar, porque deve partir do princípio que, do outro lado, há no banco alguém que estará pronto a tirar proveito de todas as oportunidades que forem concedidas. Ontem Jesus facilitou, acreditou que determinados jogadores estavam em condições de dar ao coletivo aquilo que era necessário contra o Rio Ave, e pagou por isso, porque, do outro lado, estava um treinador que soube preparar e motivar a sua equipa de modo a que esta se conseguisse superar.

A competência e a falta de humildade são características irremediavelmente inseparáveis em Jorge Jesus. É utópico pensar que o treinador, já na casa dos 60, algum dia irá fazer desaparecer a bazófia da sua lista de defeitos. Mas, de qualquer forma, não convém misturar as coisas: mesmo os mais competentes cometem erros, por mais ou menos humildade que tenham. O fundamental aqui é: saberá Jesus aprender com eles? Acredito que sim, quanto mais não seja porque o treinador se apercebeu deles - como as substituições ao intervalo o demonstram - e reconheceu a justiça da vitória do Rio Ave. Isso é meio caminho andado para não os repetir.

Primeira batalha perdida no meio de uma longa guerra. Era inevitável que um desaire destes surgisse, pena é que tenha acontecido tão cedo na época. Seguem-se dois jogos para em casa (Estoril e Légia) antes de outra deslocação de alto risco (Guimarães). Nunca mais é sexta.