sábado, 24 de setembro de 2016

Noite de gigantes

Foi, literalmente, uma noite de gigantes. Realizando uma exibição agradável - apesar de um pouco inconsistente pelos altos e baixos apresentados ao longo dos noventa minutos -, o Sporting conseguiu vencer o Estoril de forma confortável, graças aos 3 golos marcados pelos seus gigantes: Dost e Coates. No entanto, houve mais gente grande a destacar-se para além do holandês e do uruguaio - como William e Bryan Ruiz -, para além de outras figuras que, não sendo grandes em termos de envergadura física, souberam estar à altura dos acontecimentos.

A partida decorreu em sentido único, com o Sporting a dominar por completo um Estoril muito recuado e concentrado na faixa central - convidando, de certa forma, o Sporting a usar e abusar das incursões pelos flancos. O resultado ficou em 4-2, mas não traduz, de forma alguma, o diferencial de rendimento e oportunidades de golo criadas entre as duas equipas. Houvesse mais acerto na finalização, e o resultado poderia bem ter sido uma goleada das antigas.





(via @_goalpoint)
William de régua, esquadro, transferidor e compasso, mas também de vassoura e pá, e ainda de pilhas Duracell - exibição impressionante de William, a todos os níveis. Esteve exemplar na organização e distribuição de jogo, com o destaque óbvio para o papel desempenhado no 3º (assistência) e no 4º golo (passe para assistência). É, aliás, impossível não ficar de boca aberta com o passe que fez para o segundo golo de Dost, uma obra de arte que glorifica a sua rapidez e precisão de raciocínio e execução. Defensivamente, limpou todas as iniciativas de ataque do Estoril, realizando 15 (!) recuperações de bola. Fisicamente impressionante, venceu praticamente todos os duelos e disputas de bola em que esteve envolvido, e ainda conseguiu encontrar energias para fazer sprints aos 90 minutos. Para ser perfeito, faltou-lhe apenas marcar a oportunidade de que dispôs perto do fim.

Temos matador - Bas Dost chegou, viu e marcou, marcou, marcou. Já leva quatro golos em três jogos para o campeonato, mas os da noite passada foram de uma qualidade que deixam antever muitas redes a balançar até ao final da época. Para já, vai confirmando a fama que ganhou na Alemanha: inteligente, com recursos técnicos muito interessantes, e extremamente oportuno.

Gelson, o suspeito do costume - foi o grande agitador do ataque do Sporting. Entendeu-se bem com João Pereira e conseguiu furar várias vezes a densa cortina amarela. Numa delas, fez o cruzamento para o primeiro golo de Dost. Em seis jogos da Liga, já leva dois golos e quatro assistências. Mais palavras para quê?

João Pereira todo-o-terreno - ofensivamente muito dinâmico no seu flanco, defensivamente teve um conjunto de intervenções preciosas que evitaram mais dissabores. Continua a fazer um belo início de época, merecendo ser o dono do lugar.

A diferença de ter Bryan - o ponto alto da exibição do costa-riquenho foram as duas assistências para os golos de Coates e André, mas também é justo que se reconheça a importância que tem no equilíbrio da equipa. Sabe quando tem de recuar, sabe quando tem de fechar dentro, sabe quando tem de fazer dobras, e ontem demonstrou-o em várias ocasiões. Ponto negativo: mais um punhado de oportunidades falhadas - uma das quais, há que dizê-lo, só não entrou porque Moreira fez uma grande defesa.



Corpos estranhos à equipa - Jefferson continua a não dar confiança. Até se pode dar o desconto de não ter rotinas com os colegas, por ser pouco utilizado, mas isso não explica tudo. Ofensivamente, não conseguiu tirar partido do muito espaço que teve à disposição - nenhum dos vários cruzamentos que fez encontrou um colega na área. Nas disputas de bola, entrou sempre a medo, perdendo quase sempre os duelos ou deixando a equipa desequilibrada. Alan Ruiz entrou em modo complicativo, tentando forçar dribles em situações de clara desvantagem numérica que, invariavelmente, redundavam na perda de bola. Saiu, sem surpresa, ao intervalo. 

A má gestão de esforço - Elias parece que entrou cansado. Se quer demonstrar que é um jogador diferente daquele que esteve cá em 2011/12/13, é bom que não faça muito mais jogos abaixo dos mínimos exigíveis. Markovic, recém-entrado em campo, não pode alhear-se das tarefas defensivas quando perde uma bola. A apatia que revelou no lance do 3-1 fica-lhe muito mal. Gerir esforço não pode ser isto.

A cerimónia revelada no momento de rematar - houve pelo menos um par de ocasiões em que se justificava mais o remate do que um passe a procurar um colega (supostamente) em melhor posição. Quando há boas condições para alvejar a baliza, mais vale não hesitar e fazê-lo.



A gestão de esforço que se aceita - a equipa entrou em descompressão após o 3-0. Não é bonito, era certamente mais entusiasmante se continuassem a carregar sobre o Estoril à procura da goleada, mas estando o jogo resolvido e havendo uma partida importante na terça-feira, é razoável que isso aconteça. Pelo meio, ainda deu para André se estrear a marcar.

O regresso de Capela - considerando o passado do árbitro com o Sporting e a previsível animosidade no seu regresso a Alvalade, João Capela revelou, de uma forma geral, sensatez na condução do jogo. Antes do primeiro golo houve um par de jogadas de perigo na área do Estoril que me pareceram (no estádio) cortadas prematuramente. O facto de o Sporting ter marcado cedo acabou por tornar a partida simples de dirigir, e o árbitro soube tirar vantagem disso não complicando. A partir daí, tirando uma ou outra decisão errada (para ambos os lados), fez uma boa arbitragem. 



Exibição bastante aceitável que fica um pouco manchada pelos dois golos sofridos. De qualquer forma, foi uma vitória importante por quebrar a sequência de duas derrotas, e também foi positivo o facto de Jesus ter podido gerir o esforço de certos jogadores já pensando no embate com o Légia.