quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Obrigação cumprida sem brilhantismo

Num jogo em que era obrigatório ganhar para não comprometer o objetivo de acabar a fase de grupos nos dois primeiros lugares, Jorge Jesus escalou um onze surpreendentemente conservador: a colocação de Bruno César como segundo avançado (quando se esperava André) e de Bryan Ruiz como médio ala esquerdo (em vez de um extremo mais explosivo) foram uma demonstração clara de respeito por parte do técnico pela equipa polaca, como quase se de um Real Madrid se tratasse. Olhando agora em perspetiva para o que se passou durante os 90 minutos, houve, claramente, respeito a mais. A diferença de nível entre as duas equipas é abissal, e cedo se percebeu que a história do jogo ficaria definida assim que se metesse a primeira batata lá dentro.

Indo para o intervalo com uma vantagem confortável, a equipa regressou para a segunda parte parecendo um pouco indecisa entre se deveria carregar para marcar um terceiro golo e acabar com todas as dúvidas em definitivo, ou se haveria de tirar o pé do acelerador já a pensar em Guimarães. Excetuando cerca de dez minutos em que se viu ainda alguma vontade de incomodar o guarda-redes polaco, a segunda opção pareceu recolher a preferência da maior parte dos jogadores. Os segundos quarenta e cinco minutos foram, genericamente, penosos de assistir, face ao enorme zelo demonstrado na gestão do esforço que, por várias vezes, se confundiu perigosamente com displicência. 





A primeira parte - o arranque do Sporting na partida foi um pouco aos solavancos. A equipa revelou dificuldades em contornar a pressão polaca, encabeçada pelo incómodo Nikolic, e em ligar jogo entre setores. Nesses primeiros dez minutos, o Legia conseguiu algum ascendente territorial, mas assim que o motor (leia-se William Carvalho e Adrien Silva) começou a carburar, o jogo passou a ter um único sentido. O Sporting foi, progressivamente, encostando o Legia à sua área e não deu tréguas até o resultado estar em 2-0. Pelo meio, as oportunidades desperdiçadas foram suficientes para se chegar ao intervalo a golear, com destaque para um remate de Gelson à barra com a baliza aberta.

Mais um golo de Dost - marcou hoje o seu quinto golo, em apenas cinco jogos. Enorme mérito do holandês na forma como está a fazer esquecer Slimani, apesar de ser ainda evidente, em determinados momentos, alguma falta de entendimento com os restantes colegas. Essa falta de entendimento é natural, visto que Bas Dost chegou ao clube há menos de um mês, mas os atributos individuais que já exibiu - começando pela eficácia na finalização - deixam poucas dúvidas em como o Sporting acertou em cheio na substituição do argelino.

A/C Fernando Santos - o selecionador esteve presente em Alvalade, e não lhe terá passado despercebida a boa exibição de Rúben Semedo. Intransponível quer pelo chão quer pelo ar, e tremendamente eficaz na resolução das várias situações de 1x1 em que esteve envolvido.





Gerir esforço não pode ser sinónimo de facilitar - na fase de grupos da Liga dos Campeões, golear é algo que, sendo agradável, está longe de ser essencial. O goal average só tem importância para o desempate entre duas equipas que terminem com os mesmos pontos e que tenham obtido dois resultados idênticos nos jogos entre si. Ou seja, é muito pouco provável que a goleada de 6-0 que o Dortmund alcançou na Polónia venha a ter mais influência no desfecho final do grupo do que se tivesse acabado 1-0. Por isso, sabendo que há daqui a quatro dias um jogo em Guimarães que se adivinha complicadíssimo, compreendo a desaceleração que a equipa registou na segunda parte, mas os índices de concentração atingiram níveis pouco recomendáveis. O resultado desse relaxamento foram várias perdas de bola desnecessárias e faltas cometidas em locais proibidos, que acabaram por ser uma espécie de convite para os polacos - que pareciam mais interessados em deixar passar o tempo e em não levar novo cabaz para casa - procurarem o golo que reabriria a discussão da partida. E, verdade seja dita, só não o conseguiram porque são mesmo uma equipa fraquinha...





A titularidade de Jefferson - esta decisão só se pode explicar pela indisponibilidade de Marvin Zeegelaar, pensando numa eventual recuperação para Guimarães. Jefferson não está em boa forma - algo que começa a ser um problema crónico, pois já se prolonga há dois anos -, e, mais uma vez, não teve uma noite feliz. De qualquer forma, conseguiu ser um pouco mais assertivo nas incursões que fez pelo seu flanco e foi útil nas bolas paradas. Não comprometeu - o que já não é mau -, mas também não foi o suficiente para nos convencer que poderá ser solução para a generalidade da época.

A estreia oficial de Petrovic - entrou numa altura em que o tal relaxamento já dava pistas de descambar no início de uma tragédia à Sporting, e a verdade é que a sua entrada contribuiu para recuperar algum controlo das operações. 



Sem brilhantismo, o fundamental foi alcançado. Três pontos conquistados e 1,5 milhões nos cofres. Seguem-se dois jogos decisivos para o nosso futuro na competição: o duplo embate com o Borussia Dortmund.