quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Obrigadinho, Carrillo

Novo texto do 3295C.


Isto parece começar mal, mas vai acabar bem. Muito bem.

Apesar de considerar André Carrillo um jogador talentoso, admito que a sua saída do Sporting não me custou. Foi até com um sorriso que o vi assinar do outro lado. O Clube, leia-se Bruno de Carvalho, fez tudo para que o peruano renovasse. Todos acreditavam no potencial do La Culebra e, apesar da instabilidade com que tem pontuado a sua carreira até agora, o próprio Jorge Jesus sabia que era um extremo à sua medida. Rápido na execução, bom no passe e alguma inteligência no jogo. Tudo isto quando está nos seus dias. Todos nós temos os nossos, mas os do Carrillo coincidiam algumas vezes com os dias do jogo. Escondia o talento só ele sabia onde – ou nem ele… – e tornava-se vulgar. Banal. Por vezes com erros infantis. Até arrancar de novo um jogo ou um par de jogadas dos diabos e fazer um estádio inteiro perguntar: “Porque não é sempre assim?" 

Não vou recordar o processo completo. Apenas lembrar que Bruno de Carvalho chegou a proporcionar a Carrillo um contrato com os valores que o peruano exigia e nem assim houve renovação. Faz lembrar Ortega y Gasset: “As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter”.

Foi melhor assim. Deveria dizer-se que para ambas as partes, mas apenas uma parece estar melhor sem a outra. O contrário já é difícil de provar.

Não desejo mal a Carrillo, mas deixei de lhe querer bem no dia que deixou de ser jogador do Sporting. E lamento muito que o possa ter feito antes mesmo de ter deixado de competir de leão ao peito. Se não contratualmente, na sua cabeça. Não desejo bem ou mal. Quero apenas que seja ele próprio. Como adversário, é o que me interessa.

“Não é defeito, filho. É feitio”, dizia-me algumas vezes a minha tia Muriel.

Que terá aprendido Carrillo nos cinco anos que passou na Academia a trabalhar? Que experiência levou do Clube? O que guarda dos companheiros? Melhor: que recordações terão de Carrillo os jogadores que foram seus companheiros no Sporting?

O episódio com Luisão, logo no início de Agosto, nem entra para estas contas. Foi relatado pelo Correio da Manhã e 90 por cento deste tipo de notícias que dão é fruto de má informação e seria coincidência a mais esta história estar nos outros 10 por cento.

Para terminar este tópico: não dou para o peditório dos empresários. Os jogadores são maiores e, por isso, responsáveis pelos seus actos, incluindo delegar os seus interesses num agente. Desportivo ou qualquer outro.

Acredito que já nem se lembrassem de Carrillo. Que foi fácil de o esquecer. Esse esquecimento deve-se, precisamente, a alguém que já é difícil de esquecer. Sobretudo para os adversários. Se conseguirem dar uma palavrinha ao Marcelo, ele conta-vos a história bem melhor do que aquela que eu contaria. Certamente.

Mas coloque-se Madrid de lado e concentremo-nos na Liga NOS. Até para dar vantagem a Carrillo, que foi suplente não utilizado com o Besiktas. Tal como já havia sido com o Tondela e na Supertaça.



É cedo para estas comparações? Talvez. Mas o futuro é promissor. É só ver o caminho já percorrido.