domingo, 11 de setembro de 2016

Tarde para se experimentar brinquedos novos

Esteve longe de ser brilhante a exibição do Sporting na primeira parte. Contra um Moreirense muito bem organizado, capaz de pressionar alto mas muito rápido a recuperar e fechar-se no seu meio-campo mal o Sporting ultrapassava a primeira linha de defesa, a equipa de Jorge Jesus revelou dificuldades em chegar à área com perigo e não mostrou capacidade para criar grandes ocasiões para marcar. 

Obviamente que não é irrelevante o facto de terem existido muitas alterações em relação à equipa-tipo das três primeiras jornadas: os veteranos João Pereira e Bryan Ruiz saíram do onze, certamente por Jorge Jesus desejar tê-los 100% frescos para a partida de Madrid, tendo sido substituídos por Schelotto e Alan Ruiz; Bruno César recuou para lateral esquerdo e Joel Campbell foi colocado à sua frente; e, claro, Slimani foi (definitivamente) substituído por Bas Dost. Mexendo Jesus em meia-equipa e apostando em alguns jogadores recém-chegados, que estão numa fase de conhecimento mútuo com o restante coletivo, seria natural que a produção da equipa se ressentisse.

O jogo acabaria, no entanto, por ficar decidido no espaço de sete minutos. Gelson Martins, o suspeito do costume, colocou o Sporting em vantagem no marcador após uma bela assistência de William Carvalho, e, pouco depois, Neto cometeu uma falta dura sobre William e viu, justamente, o segundo amarelo. Em vantagem numérica e no marcador, o resto da primeira parte pouco mais trouxe ao jogo. A segunda parte, no entanto, começou numa toada de sentido único, e a superioridade do Sporting em campo foi total até vinte minutos do fim, altura em que a equipa, com o jogo já resolvido, decidiu entrar em modo Madrid.

Pelo meio, deu para dois reforços marcarem na sua estreia no onze, para outro fazer uma assistência, e para dar a conhecer aos sportinguistas alguns dos brinquedos novos da época.



Gelson, sempre Gelson - ninguém diria, olhando para as capas de jornais do último mês que o jovem extremo (não) fez, mas Gelson Martins está a ser, até agora, o jogador mais influente do campeonato. Nos quatro jogos disputados, já leva dois golos e duas assistências (distribuídos, sem falhas, pelas quatro partidas), mas foi também decisivo no 1º golo contra o Porto e participou ainda na jogada do 3º contra o Moreirense, quando recebeu no centro do terreno o passe de Bruno César, e entregou a bola a Schelotto para o posterior cruzamento. Nem tudo lhe tem saído de forma perfeita, mas está a fazer um arranque de temporada fenomenal. A continuar assim, não há concorrência que lhe tire o lugar.

As caras novas a contribuírem - era difícil Bas Dost desejar melhor estreia, por muito pouco ortodoxo que tenha sido o golo que marcou. Campbell também fez o seu, num magnífico cabeceamento a cruzamento açucarado de Alan Ruiz. Três das caras novas do Sporting 2016/17 a contribuírem decisivamente para esta vitória.

Resolver para gerir - depois de uma primeira parte frouxa, o Sporting regressou do intervalo com vontade em resolver rapidamente o jogo. Sucederam-se as oportunidades e os golos não tardaram. A partir daí, com 3-0 no resultado e superioridade numérica, Jesus e os jogadores puderam então pensar no jogo de Madrid: Gelson e Adrien, jogadores que estiveram nas respetivas seleções, foram substituídos, e a própria equipa foi tirando o pé do acelerador à medida que o tempo ia passando. Quando é assim, nada a dizer. Mau é quando se começa a gerir para depois ter que se resolver em desespero.

Rui Patrício against oblivion - não teve praticamente trabalho, mas foi obrigado a mais uma grande intervenção perto do fim. Não lhe têm dado muito trabalho nesta época, mas responde em grande estilo quando a ocasião assim o exige. Uma fonte de estabilidade e tranquilidade numa defesa que tem uma média de 0,25 golos sofridos por jogo.

A ovação a Adrien - já se tinha percebido, no momento em que o speaker anunciava os onzes, que o muito público que compareceu em Alvalade estava disposto a esquecer o pedido do capitão para sair. E se ainda existia alguma dúvida após isso, o momento da substituição de Adrien por Elias encarregou-se de as desfazer. Os sportinguistas estão com Adrien, e, olhando para a entrega em campo, Adrien está com a cabeça no Sporting.



Diferença na agressividade na frente - no primeiro jogo pós-Islam Slimani, não terá havido quem não notasse a forma descontraída como guarda-redes e centrais do Moreirense trocavam a bola entre si - coisa que, com o argelino em campo, seria impossível de suceder. Não é uma crítica a Alan Ruiz e a Bas Dost, que são jogadores diferentes, cada qual com as suas qualidades e defeitos, simplesmente a constatação de que se perdeu esta faceta tão característica (e útil) do jogo do Sporting dos últimos dois anos. Poderá (e vai, de certeza) ser parcialmente recuperada com o treino, mas não será o mesmo.

Alguma ansiedade nos debutantes - foram muitas as estreias, e foram ainda mais os reforços desta época a serem utilizados. Nem sempre as coisas lhes saíram bem, umas por causa da natural falta de entrosamento com os colegas, e outras por algum excesso de ansiedade em mostrar serviço. Nada de anormal e que não possa ser rapidamente corrigido.



As estreias - Dost passou um pouco ao lado do jogo, mas a verdade é que também não recebeu muitas bolas em condições. Podia e devia ter marcado um segundo golo, mas em boa posição para fuzilar a baliza, decidiu entregar de calcanhar para um colega... que não estava lá. Campbell (não foi estreia absoluta, mas foi estreia a titular) não teve muitas coisas a correrem-lhe bem, parecendo até por vezes algo trapalhão, mas marcou um excelente golo e fez o passe para William cruzar para o 1º golo. Markovic foi, dos estreantes, o que esteve pior, o que se entende, pela falta de ritmo competitivo com que chegou a Alvalade. Elias cumpriu bem o seu papel e promete ser solução a muito curto prazo. André surpreendeu-me pela positiva. Destacou-se pelo passe para Markovic que era meio golo, mas também demonstrou outros atributos que poderão vir a ser muito úteis à equipa.



Quatro vitórias nas quatro primeiras jornadas. Não me lembro da última vez em que o Sporting conseguiu chegar à quarta jornada com um registo 100% vitorioso, mas suponho que já tenha sido há uns anos valentes. Apesar de três destes quatro jogos terem sido em casa, há que relembrar que já fizemos a sempre difícil deslocação a Paços de Ferreira e recebemos o Porto. Oito golos marcados (melhor ataque da competição, e deverá continuar a sê-lo quando a jornada terminar) e um golo sofrido (melhor defesa da competição). Não se poderia desejar um melhor começo.