quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Faltou agressividade para contrariar a eficiência alemã

Conforme seria de esperar, e apesar das várias baixas, foi um adversário de enorme valor que surgiu em Alvalade. Uma equipa, no verdadeiro sentido da palavra, que vale mais que a soma das suas (já de si valorosas) individualidades, muito competente a aproveitar os erros que o Sporting cometeu. Erros, sobretudo, na forma deficiente como o jogo foi abordado. É sempre mais fácil falar após o facto consumado, mas foi claro que o onze não foi bem escolhido e, acima de tudo, existiu um elevado défice de agressividade nos primeiros 45 minutos. E quando assim é, a habitual eficiência alemã costuma vir ao de cima.

Essa má abordagem ao jogo foi, em grande parte, corrigida ao intervalo, e as substituições realizadas foram acertadas, levando, como consequência, a um ascendente do Sporting que resultaria num golo e voltou a colocar a equipa na disputa do resultado. Infelizmente, as correções surgiram demasiado tarde, numa altura em que parte da equipa começava a acusar o esforço, e não foi possível evitar a derrota.

Foto: ojogo.pt



A atitude na segunda parte - foi clara a existência de indicações, dadas ao intervalo, para a equipa elevar os níveis de agressividade em campo. O Sporting começou a ganhar mais bolas divididas e, não menos importante, deixou de ter problemas em fazer faltas quando o Dortmund ameaçava partir para o contra-ataque. Junte-se a isso uma subida exponencial no jogo de William Carvalho, e passámos a ter uma equipa capaz, finalmente, de equilibrar a partida de forma consistente, e de impor o respeito necessário ao adversário.

A exibição de Coates - foi a única exibição, de entre os titulares, que considero totalmente positiva, do princípio ao fim. Fortíssimo nos duelos, sempre concentrado, limpou várias situações delicadas e ainda marcou um golo que, infelizmente, foi (bem) anulado. Rui Patrício também esteve bem, sem quaisquer hipóteses nos golos, conseguindo um punhado de defesas de grande nível, mas podia ter comprometido naquele alívio de bola num cruzamento, que permitiu um remate de ressaca à barra.

As mexidas na equipa - as três substituições feitas por Raúl José foram benéficas para o coletivo. Bruno César trouxe outra consistência e clarividência ao meio-campo do Sporting, André conseguiu ser o avançado incómodo e combativo que Markovic nunca foi (na segunda parte) nem quis ser (na primeira parte). Campbell entrou para o lugar de um desgastado Ruiz, entrando numa fase em que o cansaço já começava a afetar a lucidez da generalidade da equipa, mas ainda teve um par de iniciativas interessantes. 

O ambiente no estádio - não me recordo, nos últimos anos, de ver uma claque adversária tão ruidosa como a do Dortmund. Do lado do Sporting, tirando os três ou quatro minutos após o segundo golo dos alemães, o apoio foi contínuo e vibrante, que se elevou para níveis vulcânicos após o golo de Bruno César. Excelente ambiente em Alvalade, digno do grande jogo a que tivemos oportunidade de assistir.



A atitude e falta de coordenação na primeira parte - não é possível, na Liga dos Campeões, uma equipa ter sucesso sem estar disposta a deixar a pele em campo. Se isso costuma ser verdade contra equipas que teoricamente do mesmo nível ou, por vezes, até mais fracas, é um facto incontornável contra equipas mais fortes. No entanto, o Sporting foi, nos primeiros 45 minutos, um conjunto incompreensivelmente macio, que desistia com demasiada facilidade do confronto físico na disputa de bolas - cometeu apenas duas faltas (!) nesse período -, e descoordenado. Começando na frente, com Dost e Markovic (principalmente o segundo) a deixarem os adversários entrarem no meio-campo do Sporting sem qualquer oposição, e depois com William e Elias a hesitarem frequentemente sobre qual deles deveria sair em contenção. Como resultado, os alemães chegavam a 30 metros da baliza sem qualquer tipo de oposição. Uma falta de agressividade que também, em posse, esteve na origem de várias perdas de bola - duas das quais acabariam por dar os dois golos do Dortmund.

Exibições abaixo do exigível - Markovic foi uma unidade a menos, quer com bola - pela incapacidade revelada em dar sequência a qualquer tipo de lance -, mas principalmente sem bola, pelos motivos já referidos. Corrigiu um pouco a atitude na segunda parte, mas isso não apaga a sua péssima prestação. Rúben Semedo cometeu alguns erros que lhe são pouco habituais: deixou-se bater em corrida por Aubameyang no primeiro golo, hesitou em atacar a bola no segundo, para além de ter complicado em certas ocasiões. Apesar do excelente cruzamento para Dost, Zeegelaar nunca teve capacidade para lidar com a pressão adversária, e passou por grandes dificuldades a fechar o seu flanco. William e Elias tiveram uma primeira parte sofrível, com o capitão a estar ligado às perdas de bola em ambos os golos do Dortmund. E Dost devia ter marcado naquele cabeceamento...

As hipóteses na Champions - a crua realidade é que estamos praticamente eliminados na Champions. A única forma de seguirmos em frente passará por vencer os três jogos que faltam, o que, considerando as lacunas que a equipa tem evidenciado, será uma tarefa quase impossível.



Derrota frustrante, por termos desperdiçado 45 minutos com erros de casting e níveis de agressividade inadequados para o nível do adversário de ontem. Mas, por outro lado, a equipa técnica e jogadores souberam corrigir a maior parte dos males (pelo menos, os males que podem ser corrigidos) durante a segunda parte. Se conseguirem transportar estas lições para os outros jogos, ou seja, se tivermos, daqui para a frente, uma equipa mais agressiva, com mais ratice, e mais inteligente a gerir as diferentes situações que um jogo pode dar, então pode ser que esta derrota venha a ser útil. Os jogadores terão, já no próximo sábado, uma boa hipótese para demonstrar que tipo de equipa querem ser.