sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Fosso

Depois do terceiro empate consecutivo, há que evitar a tentação de disparar em todas as direções, e não fazer pagar o justo pelo pecador. Hoje, o Sporting perdeu pontos por culpa própria, e também, provavelmente por culpa alheia. Tanto as questões de culpa própria, como as de culpa alheia, não são uma exceção no passado recente.

O Sporting entrou bem no jogo. Fez 30 minutos bastante positivos, em que encostou o adversário à sua área e raramente permitiu que saísse a jogar. Nesse período de tempo, tivemos duas ocasiões flagrantes para marcar: o penálti falhado por William, e um remate de Gelson defendido por Rui Silva. Este é o primeiro problema: em 30 minutos de domínio claro, é insuficiente que apenas se consiga criar duas oportunidades flagrantes. A superioridade de posse de bola do Sporting tem sido uma constante, mas inócua, de tão pouco objetiva que é. Os adversários já perceberam que podem oferecer as laterais aos nossos jogadores, porque 75% das vezes rodamos jogo para trás para tentar nova vaga, e nas outras 25% saem cruzamentos com um baixíssimo índice de aproveitamento. Resultado: 10 jogadores adversários podem estacionar na área e nas imediações da sua linha limite, bastando um para sair ao lateral ou ala que estiver com a bola, para evitar que progrida para o interior da área. Perante tal concentração de pernas, é evidente que as trocas de bola estão, mais cedo ou mais tarde, sujeitas a acabar mal.

Hoje, não houve um problema de atitude. Os jogadores correram, lutaram e esforçaram-se por conseguir a vitória, pelo que não é justo imputar-lhes o fracasso. O que há é um problema evidente de fio de jogo que, à medida que o tempo vai passando, começa a baixar os níveis de confiança e a pesar nas pernas e na cabeça dos jogadores.

Jesus voltou a insistir em Zeegelaar e Bryan Ruiz, dois jogadores em péssima forma. Não surpreende que os dois raramente tenham conseguido combinações bem sucedidas enquanto estiveram em campo. Perdi a conta à quantidade de passes que saíram pela linha lateral ou de fundo, ou porque iam com demasiada força, ou porque um não percebeu que o outro solicitava a desmarcação. Depois, as substituições. Alan Ruiz foi uma nulidade. Campbell foi, mais uma vez, encostado à linha e afastado da área. E a substituição final não lembra ao diabo: por que razão foi colocar Elias, em vez de pôr o ponta-de-lança que tinha no banco? Não admira, que durante os descontos, William ou Coates não soubessem o que fazer à bola, perante a completa falta de opções.

E a decisão mais incompreensível de todas, que de certeza deixou quase todos os sportinguistas de cabelos em pé: a escolha de William para marcar o penálti. Eu adoro William, é o meu jogador preferido do Sporting, mas remata pessimamente e, como tal, não pode ser o marcador de penáltis. NÃO PODE SER O MARCADOR DE PENÁLTIS. Com Bruno César em campo, não vejo onde estaria a dúvida.

Na segunda parte, raramente criámos ocasiões, e há que reconhecer que a melhor pertenceu ao Nacional, num quase auto-golo de Rui Patrício salvo pela barra. No final, ambas as equipas acabaram com 9 remates. Sintomático.

Há, como é óbvio, grandes culpas próprias, mas não posso deixar de falar nos fatores externos. Mais uma vez, tivemos uma arbitragem que nos foi prejudicial. Vasco Santos, o árbitro que nos arrumou as esperanças do título em 2013/14, com uma arbitragem descaradamente tendenciosa em Setúbal, não viu um penálti claríssimo sobre Bruno César. Foi de uma permissividade total com o jogo duro do Nacional - houve, pelo menos, duas faltas sobre Schelotto, uma sobre Gelson e uma sobre Markovic que foram excessivas, e nenhuma deu direito a cartão. Não assinalou fora-de-jogo numa oportunidade de golo flagrante do Nacional. E, tendo dado 6 minutos de descontos, e tendo havido uma substituição durante o período de descontos realizada a ritmo de caracol, não se percebe a pressa em acabar o jogo precisamente quando se concluíram esses 6 minutos. Claro que não terá sido pelos 30 segundos que o Sporting deixou de ganhar o jogo, mas para mim é um pormenor demonstrativo de má fé.

Ficámos com sete pontos de atraso para o Benfica. Não será pelo fosso pontual que ficamos definitivamente afastados da luta pelo título, quando há ainda 26 jornadas pela frente. Preocupa-me mais fosso psicológico em que a equipa se está a enfiar e as soluções que Jesus não está a conseguir criar. Juntando tudo, não se augura nada de bom para as nossas possibilidades.