terça-feira, 11 de outubro de 2016

Janela entreaberta para 2020 e 2022


Nada nas duas goleadas que Portugal registou no duplo compromisso desta semana é garantia do quer que seja. Não garantem a presença no mundial e não são sinal de que a equipa está finalmente a jogar como um coletivo superior à soma das suas individualidades. Os quatro golos de André Silva, os dois golos de João Cancelo e as duas assistências de Gelson Martins não significam que estão encontradas soluções imediatas para as necessidades da seleção. Não é uma questão de cepticismo: acredito que André Silva tem tudo para ser o ponta-de-lança tão desejado e que Gelson é um extremo como há muito o futebol português não fabricava. É, simplesmente, a constação de que tanto Andorra como as Ilhas Faroé não são adversários que sirvam para tirar quaisquer conclusões sérias, pois o que Portugal precisa é de jogadores que possam fazer a diferença de forma consistente contra seleções de 1º plano.

Independentemente disso, é bom ver a seleção a ser ocupada progressivamente por jovens com potencial para serem dos melhores jogadores mundiais nas suas posições. No Europeu, assistimos à afirmação de Raphael Guerreiro (22 anos), William Carvalho (24) e João Mário (23), que já são donos de um lugar no onze. Renato Sanches (19) está a atravessar uma fase de adaptação a uma realidade nova, que poderá resultar a curto/médio prazo na confirmação do seu imenso potencial. E atrevo-me a dizer que André Silva (20) e Gelson Martins (21) prometem atingir idêntico patamar nos próximos dois anos. Concretizando-se todo este potencial, fica formado um núcleo fortíssimo que poderá carregar a seleção após a saída de Cristiano Ronaldo. Existe também uma segunda linha de jogadores com muita qualidade e rodagem, como Bernardo Silva (22) ou Anthony Lopes (26), e outros que, num futuro não muito distante, poderão atingir esse nível, que já vão brilhando nos sub-21.

Falamos de jogadores que, podendo ser já soluções de 1ª  ou 2ª linha, ainda estão em fase de desenvolvimento, e que apenas entrarão ou estarão no auge das suas carreiras num período que englobará os europeus de 2020 e 2024, com o mundial de 2022 pelo meio. Consiga Fernando Santos continuar (e até acelerar) a renovação, e a competitividade da seleção a médio/longo prazo poderá atingir um nível que parecia impensável há apenas dois ou três anos.

P.S.: não incluí, propositadamente, os nomes de André Gomes (23) e João Cancelo (22), por continuar a achá-los produtos de marketing de Jorge Mendes. É verdade que o médio está no Barcelona, mas nunca o vi demonstrar a consistência que normalmente é necessária para chegar a esse nível (e a palidez das suas exibições na seleção, quer no europeu, quer mesmo nestes últimos encontros, não ajudam a mudar essa impressão). Não quer dizer que consigam concretizar o potencial que muitas pessoas dizem ter, mas prefiro esperar para ver.