domingo, 23 de outubro de 2016

Mau demais para um suposto candidato ao título

Este foi, tanto quanto me lembro, o pior jogo que o Sporting fez na era de Jorge Jesus. O resultado é um castigo justo, não pelo que o Tondela fez para conseguir o pontinho que alcançou - antijogo miserável com a conivência da equipa de arbitragem -, mas pela falta de atitude revelada pelos jogadores e pelo total deserto de ideias para ultrapassar o autocarro dos visitantes. Como é evidente, as culpas por este resultado não se limitam apenas aos jogadores, porque estes apenas executam a estratégia que Jesus idealizou. Mas, a desfavor da equipa técnica, há ainda equívocos, cada vez mais evidentes, na forma como certos jogadores são utilizados, e na incapacidade para mudar o chip de que Jesus tanto fala: conseguimos não ganhar nenhum dos três jogos pós-Champions. Foi mau, mau demais para uma equipa que quer ser campeã.

Foto: Global Imagens



Está aí o teu segundo avançado, Jesus! - Jorge Jesus já testou, como segundo avançado, Alan Ruiz André, Markovic, Bruno César, Bryan Ruiz e até Castaignos, mas parece fazer questão de ignorar aquilo que muita gente já percebeu: Joel Campbell, pela sua capacidade de desmarcação e espontaneidade de remate, deveria ser opção para o lugar - como já o tinha demonstrado contra o Moreirense. Colocá-lo junto a uma faixa e obrigá-lo a estar a maior parte do tempo de costas para a baliza, em trocas de bolas com os colegas mais próximos, é tentar fazer dele o jogador que não é e desperdiçar as suas melhores qualidades.

No meio do marasmo, foi havendo Gelson e Coates - o extremo não teve uma noite particularmente inspirada, mas foi o único jogador que foi conseguindo fazer alguma coisa para causar desequilíbrios - acabando por somar mais uma assistência ao seu pecúlio. Coates fez tudo o que podia - limpou o que podia limpar atrás, e ainda tentou explicar aos médios o que era preciso fazer para empurrar a equipa para a frente.



Falta de atitude, esclarecimento e de um plano B - todas as equipas têm direito a jogos menos conseguidos, mas, havendo atitude, existe sempre uma boa possibilidade de se ultrapassarem os obstáculos colocados pelos adversários de menor valia teórica. Ontem foi evidente, desde muito cedo, que a estratégia não estava a resultar. A concentração de jogadores na faixa central era enorme e o Tondela estava perfeitamente confortável com as débeis tentativas do Sporting em furar a sua defesa. Muitas vezes, o Sporting colocava em simultâneo ambos os alas / extremos em posições interiores, ficando as duas faixas laterais desertas de jogadores das duas equipas. Sem rapidez e inspiração na execução, constantemente a bola voltava para os homens mais recuados do Sporting para iniciar uma nova vaga, mas qualquer tentativa de variação era feita de forma ainda mais lenta e denunciada. Compreendo que a equipa tente jogar com critério, mas em situações em que a estratégia não está claramente a funcionar, não fará sentido dar indicações aos jogadores para terem menos cerimónia e colocarem rapidamente a bola na área, de forma a que Dost, André, Castaignos ou Campbell, possam fazer pela vida? As poucas ocasiões que construímos, perto do fim, surgiram assim. Falta sentido prático a esta equipa. Se os jogadores estiverem inspirados, coisas boas podem acontecer. Não estando inspirados, há que pressionar o adversário colocando a bola na área tantas vezes quanto se conseguir, esperando que a categoria dos nossos avançados possa fazer a diferença em uma ou duas dessas situações. No fundo, um plano B.

Jogadores a precisar de banco / descanso / exílio - no meio de várias exibições para esquecer, houve, no entanto, três casos particularmente gritantes. Elias foi, mais uma vez, um jogador inútil em campo. Ou se posicionava entre os centrais para fazer passes curtos para o lado; ou se posicionava em cima de William quando este tinha a bola, estorvando mais do que arranjando linhas de passe; ou posicionava-se perto dos centrais adversários, esperando receber a bola quase como um pivot. O que a equipa precisava era de um médio transportador, mas Elias nunca quis assumir esse papel. Bryan Ruiz está nitidamente em má forma. Raramente as suas iniciativas correram bem e perdeu inúmeras bolas. Zeegelaar está com 0 de confiança. Não consegue ter qualquer tipo de iniciativa decidida a atacar. A defender, deixou-se antecipar numa ocasião que quase deu golo ao Tondela. Três jogadores que, na minha opinião, neste momento não têm lugar no onze.

A arbitragem de Rui Costa - uma autêntica miséria: inúmeras decisões mal tomadas, com prejuízo quase exclusivo do Sporting - cantos transformados em pontapés de baliza, lançamentos decididos ao contrário, um fora-de-jogo incompreensivelmente assinalado a Campbell, que estava 3 metros atrás da linha defensiva adversária, e, acima de tudo, uma total complacência perante as entradas duras e antijogo dos jogadores do Tondela. Os 6 minutos de descontos deveriam ter sido 8 ou 9, tantas foram as entradas da equipa médica dos visitantes, e nem sequer levou em consideração o tempo que o jogo esteve parado depois de ter anunciado os tais 6 minutos. Uma arbitragem à antiga: manhosa e deliberada. Há que dizer, no entanto, que podia ter mostrado o cartão vermelho a William Carvalho já nos descontos.



Não se consegue compreender: onde está aquela equipa que esteve tão bem durante 80 minutos no Bernabéu, que conseguiu um domínio avassalador em Guimarães durante 75 minutos? Falta Adrien, mas não é aceitável que a ausência de um jogador explique tamanha diferença de rendimento. A bem das nossas aspirações, é fundamental que a equipa se reencontre rapidamente.