terça-feira, 25 de outubro de 2016

O panorama geral

Existem motivos de sobra para os sportinguistas estarem preocupados com a recente produção da equipa. No entanto, estando também insatisfeito com a produção recente da equipa, não me parece que faça sentido o sentimento de fatalismo que tomou conta de muitos adeptos. Recapitulemos os jogos oficiais que o Sporting fez até ao momento:
  • Marítimo (C): vitória por 2-0; jogámos sem ponta-de-lança, em virtude da suspensão de Slimani, mas o jogo foi ganho de forma confortável;
  • Paços Ferreira (F): vitória por 1-0; jogo completamente controlado frente a um adversário que não rematou uma única vez à baliza de Rui Patrício;
  • Porto (C): vitória por 2-1; boa reação à desvantagem inicial, vitória indiscutível;
  • Moreirense (C): vitória por 3-0; vantagem construída nos primeiros 60 minutos;
  • Real Madrid (F): derrota por 2-1; grande exibição, com reviravolta consentida nos últimos minutos de jogo.

Até esta fase, a equipa respirava confiança e não havia, seguramente, nenhum sportinguista que não estivesse satisfeito com a qualidade do futebol praticado.
  • Rio Ave (F): derrota por 3-1; exibição frouxa, com o resultado a ser definido por 15 minutos fatais;
  • Estoril (C): vitória por 4-2; bom jogo da equipa, mas foram consentidos dois golos nos cinco minutos finais que mancharam, de certa forma, a exibição;
  • Legia (C): vitória por 2-0; vantagem construída ainda na primeira parte, numa exibição poupada; o resultado nunca esteve em causa.

A derrota com o Rio Ave e os golos sofridos no final do jogo com o Estoril levantaram algumas questões sobre a consistência defensiva da equipa, mas, de uma forma geral, os resultados eram satisfatórios. O único resultado abaixo das expetativas, até então, tinha sido a derrota em Vila do Conde.
  • V. Guimarães (F): empate por 3-3; grandes 70 minutos iniciais, ao nível do melhor que a equipa produzira na época; 20 minutos finais desastrosos, consentido o empate;
  • Famalicão (C): vitória por 1-0; má exibição, parcialmente explicável pelas muitas alterações na equipa e pela pouca motivação que existe sempre neste tipo de encontros;
  • Borussia Dortmund (F): derrota por 2-1; má primeira parte, durante a qual os alemães marcaram dois golos, seguida por uma boa segunda parte, em que a equipa fabricou oportunidades suficientes para empatar;
  • Tondela (C): empate por 1-1; má exibição, do princípio ao fim, em que a derrota acabou por ser evitada nos últimos segundos.

Na Liga dos Campeões seguimos com 1 vitória e 2 derrotas. A equipa não superou as expetativas, mas também não teve nenhum resultado fora daquilo que seria razoável esperar - considerando a valia dos adversários. Na Taça de Portugal, sem qualquer brilhantismo, cumprimos a nossa obrigação. No campeonato, temos 5 vitórias, 2 empates e 1 derrota, e estamos a 5 pontos do Benfica. Aqui, como é evidente, a prestação desilude, principalmente se olharmos para a forma como entregámos pontos aos adversários.

Há motivos para estarmos preocupados? Com certeza que sim. As exibições da equipa nos últimos quatro jogos, por um motivo ou por outro, ficaram sempre abaixo do exigível. A equipa não é obrigada a jogar 90 minutos com uma intensidade elevada, mas não pode ausentar-se de campo durante um quarto de hora, como aconteceu em Vila do Conde e em Guimarães. O grupo de trabalho - equipa técnica e jogadores -, com a sua experiência acumulada, não pode revelar tamanha falta de controlo emocional e de inteligência nos momentos em que não consegue dominar todas as incidências da partida. E, acima de tudo, parece-me que tem faltado capacidade de adaptação ao que o jogo está a dar. Não é admissível, por exemplo, no jogo com o Dortmund, que Jorge Jesus tenha demorado 45 minutos a perceber que havia uma autoestrada que Markovic e Elias abriam para os médios adversários entrarem pelo nosso meio-campo adentro; não é admissível que ninguém, no banco ou dentro de campo, tenha dado um berro para aumentar os níveis de intensidade contra o Tondela e o Famalicão; é difícil compreender, com um plantel tão vasto, que ainda se esteja a ignorar o péssimo momento de forma de alguns jogadores, e se insista em fazer de outros aquilo que eles não são.

Mas, apesar de tudo isto, parece-me precipitado estarem a tirar-se conclusões definitivas sobre o valor de determinados jogadores - dos reforços, em particular, e do plantel, na generalidade - e a diabolizar-se Jorge Jesus. É indiscutível que a equipa atravessa um péssimo momento psicológico, e quando assim é, praticamente todos os jogadores parecem maus. Sabemos bem, pelo que vimos na temporada passada, que há qualidade neste plantel.

O problema é, sobretudo, psicológico. Havendo lacunas óbvias, um Sporting confiante conseguiria, com maior ou menos dificuldade, ultrapassar os obstáculos que essas lacunas criam contra os Tondelas da vida. É claro que essas lacunas exigirão (muito) trabalho técnico-tático - sobretudo no que diz respeito a garantir os equilíbrios necessários considerando as diferenças nas características entre os jogadores que saíram e os que entraram -, mas isso é algo que, com tempo, poderá ser alcançado. Se há técnico em Portugal que, através do treino, revela capacidade nessa vertente, é Jorge Jesus.

O grande problema do Sporting, neste momento, é a falta de tempo para trabalhar e consolidar esses equilíbrios. O atraso de cinco pontos reduziu a margem de erro ao mínimo. Neste panorama pouco animador, a parte positiva é que, literalmente e figurativamente, dependemos apenas de nós para conseguir dar a volta a esta situação. A nós, os adeptos, cabe-nos manter o apoio que sempre soubemos dar nos maus momentos. Que nunca seja por falta de apoio que o clube deixe de alcançar os seus objetivos. 

O jogo do ano, para o Sporting, é já na próxima sexta-feira, contra o Nacional.