segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Boa injeção de tranquilidade

O futebol praticado pelo Sporting esteve longe de ser deslumbrante e a expulsão de Vítor Costa acabou por ser uma ajuda para a vitória de ontem, mas não se podia exigir muito mais a uma equipa que batalhava contra a falta de confiança nas suas próprias capacidades. O melhor que poderia acontecer a este inseguro Sporting era uma vitória tranquila, e foi uma vitória tranquila que o Sporting alcançou. Marcador inaugurado muito cedo, controlo total da partida - o Arouca não teve qualquer oportunidade para marcar -, e uma exibição que foi subindo de qualidade com o avançar do tempo, que revelou vontade em apagar a má imagem recente e iniciar uma fase positiva que coloque o clube a discutir o campeonato até ao fim.

Foto: José Cruz


Eficácia nas bolas paradas - os dois golos marcados por Dost aconteceram na sequência de lances de bola parada. O primeiro nasce de um lançamento lateral marcado por João Pereira, com um primeiro desvio de cabeça de Rúben Semedo e assistência de Coates. O terceiro foi numa segunda vaga de um canto, em que Campbell entra na área pela direita e serve o holandês em volley. Para além do bom trabalho que revela haver nos treinos (também foi bem desenhado aquele lance em que Gelson falhou na cara de Bracali), sustenta também uma outra tese que não pode ser ignorada: é mais fácil marcar golos quando há presença de mais jogadores (6 no primeiro golo e 5 no terceiro) na área adversária - algo que, em jogo corrido, quando se usa Bryan Ruiz, Alan Ruiz, Markovic ou Bruno César no apoio ao ponta-de-lança, costuma escassear. Voltando às bolas paradas, a equipa também esteve muito bem defensivamente, pois foram vários os livres a meio-campo que foram despejados para a nossa área, sem que qualquer perigo daí resultasse. 

Ena!, um golo em contra-ataque - a par da falta de sentido prático no ataque, o aproveitamento dos contra-ataques (ou dos momentos de transição ofensiva, para os mais eruditos) é aquilo que mais me exaspera no jogo do Sporting. Somos incapazes, em situações de superioridade ou igualdade numérica, de fazer a bola chegar à área adversária rapidamente. Hoje, finalmente, marcámos em contra-ataque. É verdade que o caminho da bola até à baliza não foi propriamente o mais curto e direto que poderia ter levado, mas, ainda assim, marcámos. Foi bom, para variar.

Dost e Campbell - o ponta-de-lança marcou dois golos... à ponta-de-lança, nas únicas duas oportunidades de que dispôs. Melhor era impossível. Campbell somou um golo e uma assistência à sua conta pessoal, subindo bastante de produção quando não tem de ficar preso ao flanco esquerdo. 

O capitão voltou - foi pena ter falhado o penálti, mas isso não mancha a boa exibição de Adrien Silva no seu regresso à titularidade após a lesão. Fez a assistência para o golo de Campbell, mas o seu regresso fez-se sentir, sobretudo, defensivamente: com ele em campo, o meio-campo fica mais rijo e é capaz de controlar melhor as tentativas adversárias - por mais ténues que sejam - de chegar à nossa área.

A exibição de João Pereira - esteve muito em jogo, acabando por ser um dos jogadores mais influentes nos lances de perigo: fez o lançamento lateral no 1º golo, aproveitou bem a asneira de Vítor Costa para o "expulsar" - o que acabou por ajudar a resolver o jogo -, quase que ia marcando de cabeça a passe de William, assistiu Campbell para um remate na zona da marca de grande penalidade que saiu ligeiramente ao lado, fez o passe para Adrien no lance do penálti e, <piada> não menos importante, agarrou-se com os dois braços e pernas a Joel Campbell nos festejos do segundo golo para impedir que o costa-riquenho tirasse a camisola e visse o segundo amarelo </piada>. Quer recuperar a titularidade e aproveitou muito bem a oportunidade que lhe foi dada.

A assistência em Alvalade - vou ser sincero: receava que, num jogo numa noite fria de domingo, que começava imediatamente a seguir a um Porto - Benfica, e com a sequência de maus resultados que se conhece, a assistência fosse bastante mais fraca do que acabou por ser. Mais uma casa acima dos 40.000, sinal de que os sportinguistas não atiraram a toalha ao chão e continuam a acreditar na equipa.



Os problemas do costume na primeira parte - apesar de se ter posto em vantagem bastante cedo, o Sporting fez uma primeira parte pouco conseguida, complicativa e pouco objetiva - na prática, aquilo que também tem acontecido nos últimos jogos. Exemplo: algures na primeiro parte, Gelson teve oportunidade para cruzar para a área, onde estavam dois jogadores de cada equipa; como é hábito, preferiu circular a bola para trás; o companheiro que a recebeu (não me recordo ao certo quem foi) fez um compasso de espera e cruzou para a área, onde já estavam 5 jogadores do Arouca contra os mesmos 2 do Sporting. Tirando o golo de Dost - que foi o único remate à baliza que qualquer uma das equipas conseguiu fazer nos primeiros 45 minutos -, pouco mais fizemos para justificar a vantagem com que chegámos ao intervalo. Ainda assim, muito mais do que o Arouca fez em campo.

Anti-jogo como uma forma de vida - ainda não tinham decorrido três minutos após o início da partida, e já o Arouca começava a fazer anti-jogo. Fizeram anti-jogo com 0-0, porque o resultado lhes satisfazia. Fizeram anti-jogo com 1-0, porque se mantinham à distância de um lance fortuito para chegar ao empate. Fizeram anti-jogo com 2-0, porque sim. E fizeram anti-jogo com 3-0 para não sofrerem o 4º. Estranho modo de se jogar futebol.

Aquela dúzia de assobiadores que não deve ter nada melhor para fazer - sinceramente, que benefícios para a equipa esperavam alcançar quando começaram a assobiar Elias no momento em que entrou em campo a substituir Gelson Martins? Por favor, se puderem, expliquem-me a estratégia, porque estou com imensas dificuldades em compreendê-la.



A polémica pós-jogo - sobre a questão das acusações de tentativa de agressão entre os dois presidentes: há duas versões idênticas, em que cada qual imputa à outra parte a responsabilidade pelo que aconteceu. Bruno de Carvalho tem a fama que tem, mas na única vez em que o acusaram de causar confusão nos túneis, acabou absolvido após ter cumprido a suspensão. Carlos Pinho e Joel Pinho são especialistas em confusões destas, tendo sido já suspensos várias vezes por episódios semelhantes. Só os próprios e os presentes no local saberão o que efetivamente se terá passado. Como tal, não faz qualquer sentido estar, neste momento, a acusar ou a defender quem quer que seja. Vou esperar para ver, mas considerando o histórico e as circunstâncias, estou muito mais inclinado a acreditar na versão apresentada por Nuno Saraiva.



Após três jogos para o campeonato sem ganhar, era importantíssimo, acima de tudo, que se quebrasse esta série negativa, nem que fosse por meio a zero. Missão cumprida com tranquilidade. Reduzimos a distância para o Benfica e apanhámos o Porto na classificação. Foi uma boa noite para o Sporting.