quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Mais claro do que isto é impossível - parte 3

Todos se lembram o que aconteceu quando o Sporting começou a estabelecer cláusulas de rescisão de 45 e 60 milhões de euros. Caiu o Carmo e a Trindade. Muitos jornalistas sentiram-se incomodados com esta loucura: ou era porque os salários dos jogadores não eram proporcionais ao valor da cláusula - como se a cláusula tivesse que ser, necessariamente, uma avaliação realista do valor atual de um jogador -,  ou porque os jogadores ficavam reféns do clube.

Não lhes ocorreu, na altura, que o clube estivesse, pura e simplesmente, a defender os seus interesses. E nenhum mal daí adveio para as carreiras dos jogadores. Não foi por terem uma cláusula astronómica que lhes cortaram as pernas. João Mário, jogador que se valorizou imenso, foi vendido abaixo da cláusula de 60 milhões. Montero, jogador que se valorizou menos, foi vendido por um valor muito, muito inferior ao da cláusula. William e Gelson (infelizmente) não acabarão a carreira no Sporting, pois, numa altura que o clube considerar apropriada, terão a sua oportunidade de brilhar em campeonatos mais competitivos do que o nosso.

Mas, entretanto, os outros clubes passaram também a estabelecer cláusulas de rescisão elevadas. Não me lembro, porém, de ler críticas idênticas às que foram dirigidas ao Sporting quando, por exemplo, Taarabt assinou com uma cláusula de 45 milhões, ou quando Gonçalo Guedes renovou com uma cláusula de 60 milhões.

Quando as cláusulas elevadas passaram a ser praticadas noutros emblemas que não o Sporting, a doutrina divide-se entre aqueles que, há uns tempos, não se pouparam nas criticas: temos os que se abstêm de voltar a expressar a sua discordância, e temos os que as celebram. Para estes últimos, é uma forma de o clube passar uma mensagem para o mercado, de demonstrar confiança nos jogadores, e uma fonte de inspiração para os colegas. O único risco? Os jogadores poderão deslumbrar-se. Esqueçam os reféns e a desproporcionalidade entre o salário e o valor da cláusula... são apenas "pérolas seguras".

As cláusulas que não se entendem




As cláusulas que se entendem



Foi bom o Benfica ter chegado às cláusulas de 80 milhões. Pode ser que o Sporting tenha agora alguma liberdade para poder determinar as suas cláusulas, sem ter que se sujeitar ao habitual coro dos indignados.