sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Noite de Taça e de Chuta-chuta-passa-passa-fura-fura

Como se esperava, Jorge Jesus fez bastantes mexidas para a partida de ontem, colocando um onze formado maioritariamente por jogadores pouco utilizados: Beto, Esgaio, Paulo Oliveira, Douglas e Matheus ainda não têm qualquer minuto para o campeonato, enquanto que Castaignos, Jefferson, Elias, André e Alan Ruiz têm sido opções irregulares. Dos onze que iniciaram a partida contra o Praiense, apenas Adrien e Bruno César são titulares habituais. Confirmando o fatalismo que ultimamente tem atingido a equipa, o jogo não podia ter começado de pior forma: o Praiense adiantou-se no marcador logo aos 2'. No entanto, a equipa soube reagir da melhor forma, encarando o adversário de forma séria, arrancando para uma exibição bastante agradável e conseguindo uma vitória confortável.

Foto: Global Imagens / Gustavo Bom



A atitude demonstrada - contra o Famalicão, o Sporting marcou cedo e registou, depois disso, oitenta minutos sofríveis, sendo notória a falta de empenho de grande parte dos jogadores em campo. Contra o Praiense, foi precisamente o inverso. A equipa viu-se a perder aos 2', e reagiu da melhor forma: impôs um ritmo elevado durante praticamente durante todo o tempo, chegando com facilidade à área adversária e criando bastantes oportunidades de golo. A bola teimou em não entrar, mas era visível que seria apenas uma questão de tempo - quanto mais não fosse, por ser pouco provável que o Praiense aguentasse o ritmo durante os 90 minutos. Nem todos os jogadores do Sporting tiveram exibições felizes, mas não se acusar ninguém de falta de atitude. E quando assim é, as vitórias ficam mais próximas - seja contra adversários do CNS, seja contra adversários da I Liga.

Chuta-chuta-passa-passa-fura-fura - que grande jogo de Bruno César. Foi, durante quase toda a partida, o jogador mais esclarecido e que mais perigo criou. Marcou um golo numa bela combinação com Adrien, sofreu o penálti que Adrien converteu, fez duas assistências (tiradas a papel químico) para os golos de André, e ainda fez um remate ao poste naquele que poderia ter sido o golo da noite. Começa a ser um jogador imprescindível neste Sporting, pela qualidade que consegue dar à equipa nas mais diversas posições.

Oportunidade aproveitada - em apenas 12 minutos, André marcou dois golos muito parecidos, com belas finalizações de primeira (já o golo contra o Estoril também foi marcado de primeira). Esta apetência para marcar golos sem grande preparação aconselha a sua utilização como primeiro ponta-de-lança, coisa que nem sempre tem sido possível. Paulo Oliveira e Douglas não tiveram muito trabalho na defesa, mas estiveram bem sempre que chamados a intervir. Acabaram por ser mais úteis nas bolas paradas: Paulo Oliveira marcou o golo do empate, e Douglas conseguiu várias antecipações na área, tendo, inclusivamente, sofrido um penálti não assinalado. Elias jogou a 6 e teve uma exibição competente.

O Praiense - pode não ter havido Taça, no sentido em que o resultado não acabou numa vitória da equipa teoricamente mais fraca, mas houve Taça, no sentido em que uma equipa com recursos muito modestos aproveitou, da melhor forma, a oportunidade para mostrar a sua capacidade. Marcou cedo, tentou defender o resultado enquanto não estava em desvantagem, mas, quando se viu a perder, teve a personalidade de subir as linhas e tentar (dentro daquilo que as pernas ainda permitiam), efetivamente, jogar futebol. Relembro, por exemplo, o que aconteceu na última partida disputada em Alvalade: o Arouca meteu o autocarro com 0-0, e manteve o autocarro a perder por 1-0, 2-0 e 3-0, praticando anti-jogo permanente e risco zero. Parabéns ao Praiense e a Agatão, espero que continuem a ter sucesso no CNS.



A utilização de Matheus, Esgaio e Meli - os dois primeiros foram titulares e cumpriram sem deslumbrar. O argentino estreou-se em jogos oficiais, entrando a poucos minutos no fim, numa altura em que o jogo estava resolvido.



Cada tiro, cada melro - ainda na manhã de ontem coloquei aqui um texto sobre a elevada percentagem de golos sofridos em relação ao número de remates enquadrados que consentimos. Ontem, primeiro remate do Praiense, golo. Foi, aliás, o único remate enquadrado de todo o jogo. Podia ter sido evitado, se Jefferson não tivesse facilitado, ou se Beto tivesse mais 10 centímetros ou estivesse um pouco melhor colocado - apesar de terem a atenuante de não ser expectável que Filipe Andrade rematasse logo dali. Mais um golo a reforçar uma estatística pouco abonatória para a equipa.

Oportunidade não aproveitada - Alan Ruiz teve alguns bons pormenores - com destaque para o forte remate de fora da área ao poste - e mostrou-se combativo, mas continua, na minha opinião, a não ter características para ser um segundo avançado - para além de Castaignos, foi mais frequente ver Matheus, Adrien e Bruno César na área do que o argentino, que prefere, claramente, pisar terrenos mais recuados; poderá, no entanto, ser muito útil quando encontrar a sua posição em campo no atual sistema de jogo do Sporting; Jefferson fez a assistência para o golo de Paulo Oliveira, mas nem contra uma equipa do CNS consegue dar segurança defensiva; Castaignos trabalhou bastante na frente, mas falhou na finalização, incluindo uma embaraçosa tentativa falhada de trivela na cara do guarda-redes. 

O pior em campo - Luís Ferreira não consegue evitar: quando arbitra o Sporting, é um desastre. No entanto, é daqueles desastres que não se podem imputar ao azar, porque os erros prejudicam sempre os mesmos. Ontem, não apitou dois penáltis claros (sobre Douglas e Castaignos) e assinalou incorretamente três foras-de-jogo que davam oportunidades flagrantes de golo (uma das quais chegou a ser concretizada por Castaignos). Apitou bem o penálti sobre Bruno César (mal seria se não visse aquele abalroamento) e anulou bem um golo a Matheus, pois Castaignos parte em fora-de-jogo e interfere na jogada.



É óbvio que não seria de esperar um resultado que não fosse uma vitória confortável, mas o que não falta, na história da Taça, são episódios de grandes a sofrerem perante equipas teoricamente muito mais fracas - e até já tivemos alguns exemplos esta temporada. O Sporting, demonstrando uma atitude competitiva irrepreensível, dignificou a competição e honrou o adversário, conseguindo ainda dar minutos a jogadores que tiveram pouca utilização durante a paragem para as seleções. Foi uma boa noite de Taça.