sábado, 12 de novembro de 2016

O Sporting, a FPF e as (não) convocatórias


Estas pertinentes palavras de Eduardo Garcia, proferidas no programa Juízo Final da última quinta-feira, vão ao encontro de algo que me tinha feito uma certa confusão nos últimos jogos da seleção: a não convocação de algumas das jogadoras do Sporting que estavam, na altura, em melhor forma.

Entre as equipas que integraram esta época a Liga Allianz, o Sporting e o Braga foram as equipas que mais investiram. Fizeram-no, no entanto, de formas diferentes: enquanto o Braga tem um projeto totalmente profissionalizado, que assenta num misto de jogadoras portuguesas, espanholas e brasileiras, o Sporting apostou exclusivamente em jogadoras portuguesas, dois terços das quais têm uma idade igual ou inferior a 22 anos, mas de valor indiscutível.

Não espanta, portanto, que o Sporting tenha sido o clube mais representado na convocatória da seleção feminina para os playoffs em que foi garantida a presença na final do Europeu do próximo ano: Patrícia Morais, Tatiana Pinto, Fátima Pinto, Patrícia Gouveia e Diana Silva. Apesar disso, achei estranho não terem sido convocadas outras jogadoras que pareciam ter lugar na convocatória e até, quem sabe, no onze - nomeadamente Rita Fontemanha, Joana Marchão e Solange Carvalhas.

O caso de Solange Carvalhas é o mais estranho: a jogadora já foi internacional por 6 vezes, tendo sido utilizada, pela última vez, no jogo de apuramento contra o Montenegro, disputado em junho passado. Entretanto, assinou pelo Sporting e teve um início de época fenomenal, mas não voltou a ser chamada. Esta exclusão das convocatórias não se pode justificar por alguma quebra de rendimento da jogadora: no dia 12 de outubro, data em que foi anunciada a última convocatória, Solange Carvalhas apenas tinha marcado 9 golos em 4 jogos da Liga Allianz.

Rita Fontemanha, lateral direita, é outro caso de uma jogadora que poderia ter sido chamada, mas que não foi convocada desde que foi contratada pelo Sporting.

E Joana Marchão, lateral esquerda, apesar de ainda não ser internacional A, tem sido das jogadoras em maior destaque no arranque da Liga Allianz. No entanto, o selecionador optou por fazer duas adaptações nessa posição, colocando Ana Borges (que, no Chelsea, costuma jogar a extremo ou a segundo avançado) como titular e, a meio do jogo, colocando em campo Fátima Pinto - que, no Sporting, joga a médio centro - para alinhar como lateral.

Considerando que o Sporting iniciou muito recentemente o projeto do futebol feminino, ainda é cedo para se tirarem conclusões sobre as tendências das convocatórias. Mas, infelizmente, sabemos dos obstáculos adicionais que se colocam aos jogadores do Sporting para entrarem nas contas dos selecionadores, nos mais variados escalões. Podence, Francisco Geraldes, Gelson Martins, Adrien Silva, William Carvalho e Cédric Soares são exemplos recentes de jogadores do Sporting que tiveram de provar muito mais que jogadores de determinadas equipas para passarem a ser chamadas regulares nos respetivos escalões, como referiu - e bem - Eduardo Garcia. Esperemos que o selecionador Francisco Neto não adote - ou seja forçado a adotar - as mesmas práticas na seleção feminina.