quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Oh não, mais uma notícia sobre novos investidores e VMOC's!

Tempos a tempos, temos de voltar ao mesmo. Quando o fumo do carvão anterior lançado sobre o Sporting começa a dissipar-se, e não havendo nada de novo para introduzir na discussão mediática, tenta-se recuperar temas antigos sob uma capa nova.


Oh não, outra vez a venda de 21% da SAD!

Refiro-me às notícias divulgadas no início desta semana sobre o facto de o Sporting estar vendedor de uma parte da SAD. Na segunda-feira, na TVI24, Sousa Martins iniciou o programa Prolongamento da seguinte forma:


"Sporting tem 21% do capital da SAD à venda!". Bombástico! Fiquei a saber, entretanto, que este tema já tinha sido noticiado, horas antes, no Jornal das 8 da TVI, como destaque das notícias de desporto. Primeiro falaram na questão do investidor, e só depois falaram no Sporting - Real Madrid. Estranha escolha de prioridades: a TVI optou por dar maior destaque à venda de 21% do capital da SAD do que do grande jogo que estava marcado para o dia seguinte.

Aqui fica, para quem não teve oportunidade de ver:


Só há duas hipóteses para explicar esta peça: ou os jornalistas da TVI andam a dormir, ou então foi mais uma encomenda vinda do sítio do costume. É que esta entrada de capital não tem nada de novidade: está prevista na reestruturação financeira acordada entre Sporting e banca, onde ficou definido a realização de um aumento de capital de 38 milhões - 20 milhões da Holdimo, pela troca de passes de jogadores, e 18 milhões de um novo investidor, através da entrada de dinheiro na SAD.

Este requentamento de notícias que se tentam fazer passar por novidades começa a ser uma praga: esta mesma operação de venda de 21% do capital da SAD já tinha sido requentada pelo Expresso... em junho de 2015!


Nada de novo nesta "notícia" da TVI, portanto. A única pergunta que fica no ar é: de onde é que veio a ordem para fazerem esta peça?


Oh não, outra vez as VMOC's

Na terça-feira, o Sporting emitiu uma nota de imprensa para (mais uma vez) esclarecer as "notícias" do dia anterior. Infelizmente, colocaram um quadro que acabou por levantar mais perguntas do que aquelas que esclareceu.


O quadro é perfeitamente claro, mas foi de uma enorme insensatez ter-se colocado a parte das VMOC's tal como está.

Em primeiro lugar, a situação atual é a seguinte: o Sporting emitiu 135M em VMOC's - 55M na primeira emissão e 80M na segunda emissão. Desses 135M, o Sporting só pode recomprar 44M, conforme foi divulgado no primeiro R&C da SAD após a reestruturação.



Ou seja, isto significa que o Sporting nunca recomprará 91 milhões (135 - 44) das VMOCs que, findo o prazo, serão convertidas em ações da SAD. Daí que, na última coluna do quadro, se possa ver que a banca ficará com 91 milhões de euros em ações.

Nada de novo, portanto.

Aquilo que lança mais confusão, neste caso, é a terceira emissão de VMOCs, no valor de 55 milhões. No entanto, também isto já estava previsto na reestruturação financeira:


Como se pode ver, esta terceira emissão de VMOCs já estava prevista, e servirá, no caso de vir efetivamente a acontecer, para pagar as primeiras VMOCs. Na prática, é apenas uma forma de estender o prazo das primeiras.

A única grande questão que me parece estar em aberto - e que também não é novidade nenhuma - é: para manter a maioria do capital da SAD, o clube terá de entrar com 99 milhões na altura em que as VMOCs forem convertidas em capital. Qual é o plano da direção do clube para concretizar esta operação?

P.S.: esta é a minha interpretação em função do que conheço sobre o assunto e daquilo que foi publicado nos últimos dias. No entanto, a SAD deve prestar esclarecimentos adicionais que dissipem as dúvidas criadas pelo quadro que foi enviado para a imprensa.

P.S. 2: de relembrar que a questão da maioria da SAD é, sobretudo, simbólica, devido à existência de 2 categorias de ações. 

As ações de categoria A só podem ser detidas pelo clube, têm poder de veto sobre todas as decisões tomadas em AG, incluindo a nomeação da administração da SAD, alterações de estatutos e aumentos de capital. 

As ações de categoria B são aquelas detidas por outros acionistas. Se o Sporting vender ações de categoria A a outros acionistas, estas transformam-se automaticamente em ações de categoria B. As ações de categoria B têm outra restrição: nenhum acionista, independentemente da percentagem de capital que possua, pode ter um peso superior a 10% nas votações da AG da SAD. Por outro lado, acionistas que tenham 10% ou mais do capital têm o direito de nomear um elemento para o Conselho de Administração da SAD.