quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A apresentação de Pedro Madeira Rodrigues

Pedro Madeira Rodrigues apresentou ontem a sua candidatura à presidência do Sporting. A forma escolhida para o fazer pareceu-me adequada: agendada com alguns dias de antecedência, numa altura em que o calendário competitivo está a meio gás. O tom do discurso foi adequado à ocasião. Dirigiu várias críticas à atual direção - e em particular a Bruno de Carvalho -, mas, concordando-se ou não com as questões apontadas, houve elevação na forma como as fez.

Pouco depois, o candidato deu uma entrevista à CMTV, onde o registo usado foi semelhante ao da apresentação.

No que toca ao conteúdo, não me apercebi de nada - quer na apresentação, quer na entrevista - que possa ser usado como uma bandeira de campanha. Apesar de as intenções parecerem as melhores e de os objetivos serem ambiciosos, Pedro Madeira Rodrigues não apontou mais do que algumas ideias genéricas sobre o rumo que o clube tomará na eventualidade de ser eleito presidente. Ou seja, limitou-se aos habituais lugares comuns, como o de prometer montar uma equipa dirigente competente e vencedora - mas sem indicar qualquer nome concreto -, ou como o de resolver o isolamento do Sporting no futebol nacional - mas sem parecer demasiado preocupado pela forma com que os nossos rivais utilizam o poder de bastidores que têm.

Pedro Madeira Rodrigues falou também no trabalho que fará para atrair novos investidores para o clube. Referir-se-ia à entrada de capital previsto na reestruturação financeira? Ou falamos de outro tipo de investidores? Acredito que esta questão será clarificada numa próxima oportunidade.

De negativo, assinalo apenas o uso de alguma demagogia, totalmente desnecessária. Apercebi-me de três casos perfeitamente evitáveis.

Na entrevista à CMTV, o candidato criticou as comissões pagas pelo Sporting, usando um exemplo em concreto: segundo Pedro Madeira Rodrigues, o Sporting pagou quase 4 milhões de euros em comissões num só atleta. Isto não é verdade. O candidato estaria certamente a falar da transferência de Alan Ruiz, na qual o clube teve encargos adicionais de 3,2 milhões. No entanto, desses 3,2 milhões, apenas 1 corresponde a comissões - os restantes 2,2 milhões foram para o prémio de assinatura do jogador. De 1 milhão para "quase 4 milhões" vai uma enorme diferença. De qualquer forma, não faz qualquer sentido acusar-se a atual direção de não ter controlar os gastos com intermediários e empresários - são evidentes os progressos registados face ao que se verificava com as direções anteriores.

Outra acusação pouco lógica foi a de que o Sporting é prejudicado pelas arbitragens por causa do isolamento do clube imposto pela estratégia de Bruno de Carvalho. Até parece que o clube não era prejudicado pelas arbitragens antes de Bruno de Carvalho ter passado a ser presidente...

Mas a acusação mais despropositada foi feita logo no início da apresentação, quando Pedro Madeira Rodrigues disse: 
"Para agravar este panorama, já de si perturbador, Bruno de Carvalho tem sido sinónimo de títulos. É verdade. Mas de títulos para um dos nossos rivais.". 

O Benfica não começou a ganhar por causa de Bruno de Carvalho. O Benfica começou a ganhar por causa do declínio de Pinto da Costa, tomando-lhe o poder e a rede de influências no edifício do futebol português. No momento em que esta transição de poder se deu, a principal preocupação de Bruno de Carvalho era manter à tona um clube falido financeira e desportivamente. Será que Pedro Madeira Rodrigues acredita que Godinho Lopes - ou qualquer outra pessoa que pegasse no clube em março de 2013 - teria impedido que o Benfica passasse a ganhar? Demagogia desta dispensa-se.

Apesar destas questões que me desagradaram, não faz sentido estar a julgar-se uma candidatura pela sua apresentação ou por alguns pontos menos positivos. Irão existir muitas oportunidades para aprofundar as ideias que Pedro Madeira Rodrigues quer implementar no clube, começando, obviamente, pela divulgação do programa eleitoral da sua lista. 

Resumindo: gostei da forma escolhida para lançar a candidatura, e compreendo que o foco ainda não esteja nas especificidades das ideias - mas, a partir de agora, há que começar a defini-las e discuti-las publicamente. E espero que as críticas - porque é legítimo que existam críticas - se limitem apenas ao que é criticável.