terça-feira, 13 de dezembro de 2016

A isenção da BTV

A BTV não tem de ser um canal isento. Aliás, a sua própria natureza impede que seja isento: é um canal do Benfica, feito por profissionais pagos pelo Benfica, a maior parte dos quais é, seguramente, benfiquista, e que tem como público alvo os adeptos benfiquistas.

Fico pasmado, portanto, que haja quem perca o seu tempo a tentar convencer o resto do mundo de que a BTV é um canal isento - como foi o caso de Nuno Farinha, na semana passada, com este artigo publicado no Record:


As imagens a que Nuno Farinha se refere são estas:


É preciso ter memória muito seletiva para se dizer que o realizador não hesitou em mostrar as imagens. Fez um close-up ao jogador que tinha acabado de fazer a falta e, azar dos azares, calhou ter acontecido o gesto precisamente nesse momento. Obviamente que o realizador não podia adivinhar que Enzo Perez iria ter aquela atitude, e, tratando-se de uma emissão em direto, não havia nada a fazer a partir do momento em que as imagens já estavam no ar.

Mas é engraçado que, precisamente nesse mesmo jogo, o comentador Helder Conduto deu uma bela prova de falta de isenção. Basta ouvir os comentários que fez durante as repetições do segundo golo do Arouca:


Lançou a hipótese de que o jogador do Arouca poderia estar em fora-de-jogo, deixando a dúvida ficar no ar - apesar de as imagens comprovarem a legalidade do golo. 

Isto tudo vem a propósito da transmissão do dérbi de domingo passado: foi uma clara demonstração da falta de isenção do canal. Foi particularmente óbvio durante a primeira parte e o intervalo. Basta contar a quantidade de vezes que mostraram a repetição do lance do contra-ataque de Guedes que é interrompido por causa das cartolinas no terreno de jogo, e contar a quantidade de vezes que mostraram as repetições dos dois penáltis que Jorge Sousa não assinalou. No caso dos penáltis, não terão sido mais de uma ou duas repetições.

Mas o pior foi mesmo o que aconteceu ao intervalo. Chamaram o isento especialista António Rola para dar a sua apreciação dos casos de arbitragem... mas só houve tempo para a apreciação do caso da interrupção da partida por causa da cartolina. Rola dissertou longamente sobre o que se passou nesse lance, e, quando ia passar para a análise dos penáltis, acabou-se o tempo. Zero repetições. Considerando que os árbitros costumam tentar obter um feedback da sua atuação durante o intervalo, deu um jeitaço que se fizesse de conta que os dois lances de penáltis não tinham acontecido - não fosse Jorge Sousa sentir-se tentado em entrar em compensações.

Outra questão relevante foi o timing da disponibilização da repetição do penálti de Pizzi de um ângulo mais frontal, onde se via claramente os dois toques consecutivos com cada um dos braços. Pelo que se diz, apareceram apenas duas horas depois de o jogo ter terminado, ou seja, numa altura em que a maior parte das estações de rádio e televisão já tinham concluído as reações ao dérbi (se não todas), e numa altura em que os jornais já teriam praticamente tudo fechado para as edições do dia seguinte. Uma bela forma de tentativa de condicionamento de opiniões.

Poupem-me, por isso, dos discursos moralistas sobre a isenção da BTV. Acham mesmo que enganam alguém com essa conversa?