sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Carta aberta ao presidente da FPF

Novo texto do 3295C.



Caro dr. Fernando Gomes:

O trabalho que cada um desenvolve à frente das instituições que dirige acaba por ser o legado que se deixa, não apenas para as gerações vindouras mas também honrando a história que nos precede. A sua passagem pela Federação Portuguesa de Futebol ficará, certamente, marcada pela conquista do título europeu. Um momento de imensa alegria para o país. No entanto, nem seis meses depois, no mesmo ano que agora acaba, mandou colocar (ou pelo menos não se opôs) os vencedores do Campeonato de Portugal na lista de vencedores da Taça de Portugal.

Com uma “decisão informática” provavelmente baseada numa acta mal interpretada da organização que dirige, pura e simplesmente apagou da história do futebol português 12 títulos de campeão, reconhecidos por toda a imprensa da época. Aliás, nem se percebe muito bem a decisão já que no mesmo site em que foi feita a ‘mudança’ dos Campeonatos de Portugal, continua a estar reconhecido ao FC Porto o título de primeiro campeão nacional na época 1921/22. Reconhece-o, mas retira-lhe o título, incluindo a competição como Taça de Portugal.

Num só ano consegue o melhor e o pior do que deixará para a história o avaliar como presidente da organização que superintende o futebol nacional, desde o tempo em que se chamava União Portuguesa de Futebol (UPF). Apesar da mudança do nome para Federação Portuguesa de Futebol ter apenas acontecido em 1926, por certo não quererá manchar a tradição e continuar a considerar Sá e Oliveira como o primeiro presidente da instituição que dirige.

Poderá parecer-lhe rebuscada esta analogia, mas creio que entende o alcance da razão.

Não são apenas os clubes campeões nacionais entre 1922 e 1939 que saem prejudicados desta contabilidade tão enganosa quanto fraudulenta. É, igualmente, a própria FPF. Como explica à FIFA que os Campeonatos que atribuíam o título de campeão nacional entre esses anos tenham sido martelados na Taça de Portugal? Só porque ambas as competições se disputavam nos mesmos moldes? Não creio que se escude nesse argumento.

Revisionismos da história dão sempre mau resultado e só na propaganda nazi é que se acreditava que uma mentira dita mil vezes se tornava numa verdade. Considerar que se andou a disputar a Taça de Portugal nos primeiros 16 Campeonatos organizados em Portugal é humilhante para a FPF e, especialmente, para si por dar cobro, ainda que com o seu silêncio e manobras informáticas, a uma mentira contada muitas vezes na vã tentativa de que se torne verdade. Humilhante por ser, acima de tudo, uma falta de respeito por todos aqueles que se esforçaram e foram consagrados, reconhecidos e homenageados até por Presidentes da República no seu tempo. Não por ganharem a Taça de Portugal e sim por serem campeões nacionais.

Se defende intransigentemente os interesses do futebol português, comece por respeitar a sua história e não embarque em teorias pseudo-iluminadas que lhe possam garantir que liga a título experimental não é a mesma coisa que liga experimental. Isso não é um problema semântico. É apenas ridículo.