quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Consequências da eliminação europeia

Agora que acabou a carreira do Sporting na Liga dos Campeões, já se pode fazer um balanço final sobre a participação do clube na competição. Infelizmente, a única forma de classificar a nossa prestação é esta: um fracasso.

Do ponto de vista de valorização de jogadores, a coisa até nem foi assim tão má. Mas do ponto de vista da afirmação competitiva da equipa e da construção de uma mentalidade ganhadora, não podia ter corrido pior. Por cinco vezes morremos na praia, que é como quem diz, perdemos por um golo, por cinco vezes fomos incapazes de segurar vantagens ou recuperar desvantagens. Se, olhando isoladamente para cada um dos jogos, o Sporting até teve boas prestações em alguns deles, analisando a participação do clube numa forma global, é preocupante que a equipa apenas tenha conseguido pontuar num deles.

Não tive oportunidade de ver com atenção o jogo de ontem. Na primeira parte fui dando uma olhadela esporádica à televisão e não era capaz de reconhecer a minha equipa: havia um jogador parecido com o Bruno César a médio direito, um rapaz com a estrutura física semelhante à do Gelson andava pelo meio do terreno, mais próximo do Dost. Paulo Oliveira andava encostado pelo flanco direito, e um jogador franzino parecido com o Markovic tentava, com pouco sucesso, fazer combinações com Zeegelaar. Aparentemente não funcionou, o que não é de estranhar: é normal que a dinâmica ofensiva sofra com uma rearrumação (ou desarrumação, se preferirem) simultânea que houve em ambos os flancos e no corredor central.

Jesus demonstrou, mais uma vez, que, sendo um treinador de topo para consumo interno, tem dificuldades para se impor na Liga dos Campeões. A estatística não mente. Verdade seja dita, não é um problema que me preocupe por aí além: o Sporting precisa primeiro de se afirmar internamente, pelo que a vitória no campeonato é a prioridade. O facto de podermos focar-nos, daqui para a frente, apenas nas competições nacionais, sem ter de cumprir o preenchido calendário de uma Liga Europa, poderá constituir uma vantagem importante à medida em que o desgaste acumulado da época começar a pesar nas pernas dos jogadores. Não deixa, no entanto, de ser frustrante ver tão poucos resultados para o investimento feito.

Falando em investimento, esta eliminação prematura das competições europeias obrigará, decerto, a uma reestruturação do plantel. No final de janeiro, restar-nos-ão apenas duas competições para jogar: a Liga e a Taça de Portugal. Quando a janela de transferências fechar, no melhor dos cenários, haverá quatro jogos para disputar na Taça de Portugal entre fevereiro e maio. Dá uma média de um jogo por mês. Ou seja, o plantel está sobredimensionado para os compromissos existentes, e muitos dos jogadores - alguns dos quais são bastante caros - terão poucas oportunidades para jogar. 

Pelo que se viu no R&C do primeiro trimestre, o custo salarial será, previsivelmente, ainda mais elevado do que na época passada. Parece-me lógico, portanto, que o mês de janeiro seja aproveitado pela direção para emagrecer o plantel. Não quero entrar em detalhes sobre os jogadores que acho que podem ser dispensados - pois não sabemos que lesões e oscilações de forma acontecerão até lá -, mas parece-me haver muito por onde cortar. Mas isso será conversa para termos daqui a um mês.

Para já, importa recuperar a equipa para domingo. Aquilo que podia ter corrido mal ontem, correu. Nem poupámos jogadores, nem alcançámos o objetivo mínimo que havia para esta competição. Ironicamente, é um fracasso que poderá reforçar bastante as nossas hipóteses de conquistar o título caso alcancemos os três pontos na Luz - um jogo que, não sendo decisivo para ninguém, poderá dar indicações importantes para o que será o resto da época. Fica o desejo de que a equipa consiga dar a volta, no domingo, ao impacto físico e psicológico da péssima noite de ontem.