sábado, 17 de dezembro de 2016

Doyen / Traffic / Títulos nacionais

Decisão do Tribunal Federal Suiço sobre o caso Rojo

Conforme se previa, o TFS deu razão à Doyen. Era previsível porque este tribunal limita-se a analisar questões processuais dos julgamentos de primeira instância, pelo que era bastante improvável que revertesse a decisão do TAD. No entanto, este desfecho não justifica que se queira fazer disto mais do que uma mera notícia de rodapé, pois não terá grande impacto na vida do clube.

Do ponto de vista moral, o Sporting continua com a razão do seu lado. A melhor prova disso está à vista de todos: foi a ação abusiva dos fundos que levou a FIFA a decidir banir os contratos de TPO do futebol. Quando o Sporting denunciou o contrato de Rojo e Labyad, os fundos agiam impunemente. Hoje, os fundos, tal como os conhecíamos, são proibidos e vistos como uns párias pelo mundo do futebol - com exceção de um punhado de clubes que adora viver metido em negociatas. 

Ainda ontem, foi divulgado pela imprensa internacional que a Doyen organizou uma festa com prostitutas onde participou Florentino Perez, presidente do Real Madrid, que, só por acaso, foi uma das testemunhas contra o Sporting no caso Doyen. Assim se vê o nível destes indivíduos. Mas a vida continua, e, felizmente, o Sporting está muito mais sólido do que estava em agosto de 2014. Em contrapartida, a Doyen e outros fundos estão em processo de perda de influência, que terminará assim que expirarem os últimos contratos ainda em vigor.

Do ponto de vista das contas, também não há impacto relevante ao nível da contabilidade e tesouraria do SAD. Do ponto de vista das contas, a provisão feita na época passada antecipou os custos de uma decisão desfavorável no TFS. Do ponto de vista da tesouraria, a retenção das receitas da Liga dos Campeões cobre, quase na totalidade, o valor a pagar.

Valeu a pena o Sporting ter-se metido nesta guerra? Na minha opinião, sim. Em primeiro lugar, pela questão de princípio de não admitir ingerências de indivíduos que nada têm a ver com o clube. Nem o problema dos juros pagos acaba por ser uma penalização particularmente dura, pois a taxa está ao nível do que se pagaria se se recorresse à banca ou a empréstimos obrigacionistas.

A Doyen é, finalmente, parte do passado do Sporting. Daqui a poucos anos, a Doyen será parte do passado do futebol. Até lá, o Benfica e o Porto que os aturem, pelo menos enquanto não venderem Ola John, Corona e Brahimi.


A parceria com a Traffic

Tem muita graça haver quem tente apontar a parceria com a Traffic como uma incoerência do Sporting face à sua posição em relação aos fundos. O Sporting insurgiu-se contra os contratos TPO e contra os fundos de quem se desconhece a origem do dinheiro. Os contratos TPO fazem parte do passado. E, tanto quanto se sabe, os proprietários da Traffic são conhecidos.

Ironicamente, o maior problema está no facto de os proprietários da Traffic serem conhecidos - e terem um historial com acusações muito graves. Isso faz com que não me agrade este acordo entre o Sporting e a empresa brasileira.

Agora, tudo dependerá da natureza da parceria: se for um simples acordo de prospeção e colocação de jogadores, não vejo grandes inconvenientes; se for para trazer Veras ou outros sul-americanos desconhecidos a troco de milhões, com clubes fachada metidos pelo meio, então Bruno de Carvalho terá de responder por isso. O tempo esclarecerá as dúvidas, mas não vejo motivos para que não se acredite que se trata da primeira hipótese.


A questão dos títulos nacionais

A Bola colocou na capa de ontem a notícia de que "a FPF já esclareceu a questão dos títulos". O jornal sustentou esta afirmação com um link do site da Federação que contém a lista de vencedores da Taça de Portugal, onde foram incluídos, numa subsecção situada no final da página, os vencedores do Campeonato de Portugal.

Não vejo como se pode achar que esta questão fica fechada com um mero link de um site, que pode ter sido colocado por um qualquer funcionário (ou até algum subcontratado). Qualquer tomada de posição da FPF terá de vir da sua direção. Mas mesmo uma tomada de posição da direção da FPF não se pode limitar a constatar que sim ou sopas - é necessário que essa posição seja bem sustentada juridicamente. A absurda (e não fundamentada) decisão de 2005 da FPF em considerar as ligas experimentais como campeonatos nacionais é discutível moral e juridicamente. Não se pode tirar, de ânimo leve, o estatuto de Campeão Nacional aos clubes, atletas e técnicos que conquistaram os Campeonatos de Portugal, conforme lhes era reconhecido à época.

A questão dos títulos continua tão aberta hoje como estava na quinta-feira.