domingo, 4 de dezembro de 2016

Uma oportunidade que não se quis desperdiçar

Após a derrota do Benfica na Madeira, o jogo com o V. Setúbal revestia-se de uma importância extrema. Não só pelos três pontos em disputa, que muita falta podem fazer num campeonato que se espera disputado até ao fim, mas também pela possibilidade de nos aproximarmos à distância de um braço em relação ao líder - e com a possibilidade de lhes darmos outro valente puxão na próxima jornada. Era uma daquelas oportunidades que não se podia desperdiçar, e a equipa percebeu o que estava em jogo: entrou em campo mentalizada em aproveitar todos os minutos que o relógio lhe dava para resolver a questão a seu favor.




A exibição na primeira parte - apesar de não ter havido um rendimento constante, o Sporting registou períodos muito prolongados de domínio total, em que não permitiu que o V. Setúbal respirasse. Futebol envolvente e quase sempre prático com bola, pressão sufocante em todo o campo sem bola, encostando por diversas vezes o adversário às cordas, com as oportunidades de golo a sucederem-se desde o primeiro minuto. Dessas oportunidades, três foram convertidas por William, Dost e Bruno César, ainda que, por motivos que apenas Rui Costa poderá explicar, o Sporting tenha chegado ao intervalo a vencer apenas por 2-0. Quarenta e cinco minutos esmagadores, que, em condições normais, deveriam ter chegado para fechar todas as dúvidas em relação a quem saíria de campo com os três pontos, mas que, ainda assim, acabaram por ser suficientes para se encarar a segunda parte com tranquilidade.

Meio campo de luxo - William Carvalho, Adrien Silva, Bruno César e Gelson Martins foram os melhores do Sporting. Se os dois primeiros são indiscutíveis há vários anos, já Bruno César e Gelson estão a ser, na minha opinião, as grandes revelações do Sporting 2016/17. O brasileiro, pela sua polivalência e elevado rendimento em várias posições, conseguiu, contra as expectativas da maior parte das pessoas (eu incluído), conquistar o seu espaço no onze. Ontem, marcou um golo fabuloso de livre direto, enfiando a bola no canto da baliza - o único sítio onde Bruno Varela não podia chegar. Quanto a Gelson, esteve endiabrado na primeira parte e somou mais uma assistência à sua conta pessoal (já lá vão 7 passes para golo, liderando a tabela das assistências da Liga com mais 3 que o trio perseguidor, nos quais se encontra Bryan Ruiz). Não espanta que as três substituições feitas por Jesus tenham servido para descansar estes jogadores, tal é a sua importância atual na dinâmica defensiva e ofensiva da equipa. Ah, e William marcou de cabeça... 

Rui Patrício contra o frio - perdi a conta às vezes que vi Rui Patrício a fazer exercícios de aquecimento em pleno jogo, quando o Sporting se preparava para bater livres ou cantos junto à área do V. Setúbal. Parecia desesperado em participar no jogo, enfiando-se entre os centrais quando Coates ou Semedo tinham a bola, para se envolver quase à força na primeira fase de construção. Fora isso, praticamente não teve trabalho, mas na única ocasião de verdadeiro perigo para a sua baliza - num cabeceamento forte à entrada da pequena área -, efetuou uma enorme defesa. Espero que seja sinal de que a sua fase menos boa já ficou para trás.

A homenagem ao Chapecoense - muito bonitas as referências nas camisolas e o cântico dedicado pelas claques na segunda parte. Pena, apenas, que ainda existam pessoas que acham que se deve aplaudir durante o minuto de silêncio.



Algum facilitismo na segunda parte - a segunda parte do Sporting foi fraquinha, mas percebe-se que a equipa tenha preferido gerir o esforço e a vantagem do que acelerar o ritmo da partida à procura do terceiro golo - seguem-se dois jogos importantíssimos onde estarão em causa a continuidade nas competições europeias e o assalto ao primeiro lugar. É normal, como tal, que o Sporting tenha abrandado o ritmo e proporcionado ao V. Setúbal a possibilidade de ter a bola que nunca conseguiu ter na primeira parte, mas parece-me que houve algum relaxamento por parte de alguns jogadores, que se traduziu em passes errados e más abordagens a lances que, com níveis de concentração máxima, não teriam acontecido.

Os golos anulados - não se compreende o que viu Rui Costa nos dois golos anulados a Dost e a Coates. É verdade que, no caso do golo do uruguaio, se escreveu direito por linhas tortas, pois houve um domínio de bola com o braço antes de se iniciar a segunda vaga de ataque que daria origem ao golo, mas é impossível que o árbitro tenha visto o quer que seja de irregular após esse momento. No golo anulado a Dost, existe um braço que se eleva por cima do defesa que o marcava, mas não houve qualquer tipo de impedimento na disputa de bola. Muito pior foi o empurrão a Schelotto pelas costas em Guimarães que nos custou três pontos. Coincidências da vida.



Quem diria? Há menos de um mês estávamos a sete pontos da liderança, e o jogo da Luz perfilava-se no horizonte como sendo absolutamente vital para as nossas aspirações - perdendo, ficaríamos fora da luta pelo campeonato. Com a vitória de hoje, passámos a estar apenas a dois pontos e iremos jogar, não pela sobrevivência da nossa candidatura ao título, mas pela liderança. Faz lembrar a aproximação que o Benfica conseguiu, na época passada, em véspera de dérbi, após o nosso empate a 0 em Guimarães, e que se converteria em liderança, uma semana depois, em Alvalade. Que a história se repita no próximo domingo, mas com os papéis invertidos. Eu acredito.